domingo, 15 de maio de 2016

Certa vez houve uma inundação numa imensa floresta. O choro das nuvens que deveriam promover a vida dessa vez anunciou morte. Os grandes animais bateram em retirada fugindo do afogamento, deixando até os filhos para trás. Devastavam tudo o que estava à frente. Os animais menores seguiam seus rastros. De repente uma pequena andorinha, toda ensopada, apareceu na contramão procurando a quem salvar.
As hienas viram a atitude da andorinha e ficaram admiradíssimas. Disseram: “Você é louca! O que poderá fazer com um corpo tão frágil?”. Os abutres bradaram: “Utópica! Veja se enxerga a sua pequenez!”. Por onde a frágil andorinha passava, era ridicularizada. Mas, atenta, procurava alguém que pudesse resgatar. Suas asas batiam fatigadas, quando viu um filhote de beija-flor debatendo-se na água, quase se entregando. Apesar de nunca ter aprendido mergulhar, ela se atirou na água e com muito esforço pegou o diminuto pássaro pela asa esquerda. E bateu em retirada, carregando o filhote no bico.
Ao retornar, encontrou outras hienas, que não tardaram muito a declarar: “Maluca! Está querendo se heroína!”. Mas não parou; muito fatigada, só descansou após deixar o pequeno beija-flor em local seguro. Horas depois, encontrou as hienas embaixo de uma sombra. Fitando-as nos olhos, deu a sua resposta: “Só me sinto digna das minhas asas se eu as utilizar para fazer os outros voarem”.


Do livro O Vendedor de Sonhos.
Augusto Cury
 

Não duvide do valor da vida, da paz, do amor, do prazer de viver, em fim, de tudo que faz a vida florescer. Mas duvide de tudo que a compromete. Duvide do controle que a miséria, ansiedade, egoísmo, intolerância e irritabilidade exercem sobre você.
Quando somos abandonados pelo mundo, a solidão é superável; quando somos abandonados por nós mesmos, a solidão é quase incurável.
Sábio é o ser humano que tem coragem de ir diante do espelho da sua alma para reconhecer seus erros e fracassos e utilizá-los para plantar as mais belas sementes no terreno de sua inteligência.
Ser livre é não ser escravo das culpas do passado nem das preocupações do amanhã. Ser livre é ter tempo para as coisas que se ama. É abraçar, se entregar, sonhar, recomeçar tudo de novo. É desenvolver a arte de pensar e proteger a emoção. Mas, acima de tudo, ser livre é ter um caso de amor com a própria existência e desvendar seus mistérios.
Se seus sonhos são pequenos, sua visão será pequena, suas metas serão limitadas, seus alvos serão diminutos, sua estrada será estreita, sua capacidade de suportar as tormentas será frágil. Os sonhos regam a existência com sentido.

Desejo que você
Não tenha medo da vida, tenha medo de não vivê-la.
Não há céu sem tempestades, nem caminhos sem acidentes.
Só é digno do pódio quem usa as derrotas para alcançá-lo.
Só é digno da sabedoria quem usa as lágrimas para irrigá-la.
Os frágeis usam a força; os fortes, a inteligência.
Seja um sonhador, mas una seus sonhos com disciplina,
Pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas.
Seja um debatedor de idéias. Lute pelo que você ama.
Augusto Cury
 


O Homem que mais defendeu as mulheres

As mulheres frequentemente foram silenciadas, controladas, diminuídas e tratadas como subumanas nas mais diversas sociedades humanas. Todavia, houve um homem que lutou sozinho contra o império do preconceito. Ele foi incompreendido, rejeitado, excluído, mas não desistiu dos seus idéias. Ninguém apostou tanto nas mulheres como ele. Fez das prostitutas rainhas, e das desprezadas, princesas. Muitos dizem que ele é o homem mais famoso da história, mas poucos sabem que foi ele quem mais defendeu as mulheres. Seu nome é Jesus Cristo, o Mestre dos Mestres na arte de viver. Esse texto não fala de uma religião, mas da filosofia e da psicologia do homem mais complexo e ousado de que se teve notícia.

Nos tempos de Jesus os homens adúlteros não sofriam punição severa. Todavia, a mulher adultera era arrastada em praça pública, suas vestes rasgadas e, com os seios à mostra, eram apedrejadas sem piedade. Enquanto sangravam e agonizavam, pediam compaixão, mas ninguém as ouvia. A cena, inesquecível, ficava gravada na mente e perturbava a alma para sempre.

Certa vez, uma mulher foi pega em adultério. Arrancaram-na da cama e a arrastaram centenas de metros até o lugar em que Jesus se encontrava. A mulher gritava “Piedade! Compaixão!”, enquanto era arrastada; suas vestes iam sendo rasgadas e sua pele sangrava esfolando-se na terra.

Jesus estava dando uma aula tranqüila na frente do templo. Havia uma multidão ouvindo-o atentamente. Ele lhes ensinava que cada ser humano tem um inestimável valor, que a arte da tolerância é a força dos fortes, que a capacidade de perdoar está diretamente relacionada à maturidade das pessoas. Suas idéias revolucionavam o pensamento humano, por isso começou a ter muitos inimigos. Na época, os judeus constituíam um povo fascinante, mas havia um pequeno grupo de radicais que passou a odiar as idéias do Mestre. Quando trouxeram a mulher adultera até ele, a intenção era apedreja-lo juntamente com ela, usa-la como isca para destruí-lo.

Ao chegarem com a mulher diante dele, a multidão ficou perplexa. Destilando ódio, comentaram que ela fora pega em flagrante adultério. E perguntaram qual era a sentença dele. Se dissesse “Que seja apedrejada”, ele livraria a sua pele, mas destruiria seu projeto transcendental, seu discurso e principalmente seu amor pelo ser humano, em especial pelas mulheres. Se dissesse “Não a matem!”, ele e a mulher seriam imediatamente apedrejados, pois estariam indo contra a tradição daqueles radicais. Se os fariseus tivessem feito a mesma pergunta aos discípulos de Jesus, estes provavelmente teriam dito para mata-la. Assim se livrariam do risco de morrer.

Qual foi a primeira resposta do Mestre diante desse grave incidente? Se você pensou: “Quem não tem peado atire a primeira pedra!” , errou, essa foi a segunda resposta. A primeira foi não da resposta, foi o silencio. Só o silencio pode conter a sabedoria quando a vida está em risco. Nos primeiros 30 segundos de tensão cometemos os maiores erros de nossas vidas, ferimos quem mais amamos. Por isso, o silencio é a oração dos sábios. Para o Mestre dos Mestres, aquela mulher, ainda que desconhecida, pobre, esfolada, rejeitada publicamente e adultera, era mais importante do que todo o ouro do mundo, tão valiosa como a mais pura das mulheres. Era uma jóia raríssima, que tinha sonhos, expectativas, lágrimas, golpes de ousadia, recuos, enfim, uma historia fascinante, tão importante como a de qualquer mulher. Valia a pena correr riscos para resgata-la.

Para o Mestre dos Mestres não havia um padrão para classificar as mulheres. Todas eram igualmente belas, não importando a anatomia do seu corpo, não importando nem mesmo se erravam muito ou pouco. Jesus precisava mudar a mente dos acusadores, mas nunca ninguém conseguiu mudar a mente de linchadores. O “eu” deles era vítima das janelas do ódios, não eram autores da sua história, queria ver sangue. O que fazer, então?

Ao optar pelo silencio, Jesus optou por pensar antes de reagir. Ele escrevia na areia, porque escrevia no teatro da sua mente. Talvez dissesse para si mesmo: “Que homens são esses que não enxergam a riqueza dessa mulher? Por que querem que eu a julgue, se eu quero amá-la? Por que, em vez de olhar para os erros dela, não olham para seus próprios erros?”

O silencio inquietante de Jesus deixou os acusadores perplexos, levando-os a diminuir a temperatura da raiva, da tensão, oxigenando a racionalidade deles. Num segundo momento, eles voltaram a perguntar o veredicto do Mestre. Então, finalmente, ele se levantou. Fitou os fariseus nos olhos, como se dissesse: “Matem a mulher! Todavia, antes de apedreja-la, mudem a base do julgamento, tenham a coragem de ser transparentes em enxergar as suas falhas, erros e contradições”. Esse era o sentido de suas palavras. “Quem não tem pecado atire a primeira pedra!”

Os fariseus receberam um choque de lucidez com as palavras de Jesus. Saíram do cárcere das janelas killer e começaram a abrir as janelas light. Deixaram de ser vítimas do instinto de agressividade e passaram a gerenciar suas reações. O homo sapiens prevaleceu sobre o homo bios, a racionalidade voltou. O resultado é que eles saíram de cena. Os mais velhos saíram primeiro porque tinham acumulado mais falhas ao longo da vida ou porque eram mais conscientes delas.

Jesus olhou para a mulher e fez uma delicada pergunta: “Mulher, onde estão seus acusadores?” O que ele quis dizer com essa pergunta e por que a fez? Em primeiro lugar, ele chamou a adultera de “mulher”, deu-lhe o status mais nobre, o de um ser humano. Ele não perguntou com quantos homens ela dormira. Para o Mestre dos Mestres, a pessoa que erra é mais importante do que seus próprios erros. Aquela mulher não era uma pecadora, mas um ser humano maravilhoso. Em segundo lugar, perguntou: “Onde estão os seus acusadores? Ninguém a acusou?” Ela respondeu: “Ninguém”. Ele reagiu: “Nem eu”. Talvez ele fosse a única pessoa que tivesse condições de julga-la, mas não o fez. O homem que mais defendeu as mulheres não a julgou, mas compreendeu, não a excluiu, mas a abraçou. As sociedades ocidentais são cristãs apenas no nome, pois desrespeitam os princípios fundamentais vividos por Jesus. Um deles é o respeito incondicional pelas mulheres!
O homem que mais defendeu as mulheres não parou por aí. Sua ultima frase indica o apogeu da sua humanidade, o patamar mais sublime da solidariedade. Ele disse para a mulher: “Vá e refaça seus caminhos”. Essa frase abala os alicerces da psiquiatria, da psicologia e da filosofia. Jesus tinha todos os motivos para dizer: “De hoje em diante, sua vida me pertence, você deve ser minha discípula”. Os políticos e autoridades usam seu poder para que as pessoas os aplaudam e gravitem em sua órbita. Mas Jesus, apesar do seu descomunal poder sobre a mulher, foi desprendido de qualquer interesse. “Vá e revise a sua historia, cuide-se. Mulher, você não me deve nada. Você é livre!”

Jesus a despediu, mas ela não foi embora. E por que? Porque o amou. E, por ama-lo, o seguiu para sempre, inclusive até os pés da cruz, quando ele agonizava. Talvez essa mulher tenha sido Maria Madalena. A base fundamental da liberdade é a capacidade de escolha, e a capacidade de escolha só é plena quando temos liberdade de escolher o que amamos. Todavia, estamos vivendo em uma sociedade em que não conseguimos sequer amar a nós mesmos. Estamos nos tornando mais um numero de cartão de crédito, mais um consumidor potencial. Isso é inaceitável.
Augusto Cury
O Espetáculo da Vida

Que você seja um grande empreendedor. Quando empreender, não tenha medo de falhar. Quando falhar, não tenha receio de chorar. Quando chorar, repense a sua vida, mas não recue. Dê sempre uma nova chance para si mesmo.

Encontre um oásis em seu deserto. Os perdedores vêem os raios. Os vencedores vêem a chuva e a oportunidade de cultivar. Os perdedores paralisam-se diante das perdas e dos fracassos. Os vencedores começam tudo de novo.

Saiba que o maior carrasco do ser humano é ele mesmo. Não seja escravo dos seus pensamentos negativos. Liberte-se da pior prisão do mundo: o cárcere da emoção. O destino raramente é inevitável, mas sim uma escolha. Escolha ser um ser humano consciente, livre e inteligente.

Sua vida é mais importante do que todo o ouro do mundo. Mais bela que as estrelas: obra-prima do Autor da vida. Apesar dos seus defeitos, você não é um número na multidão. Ninguém é igual a você no palco da vida. Você é um ser humano insubstituível.

Jamais desista das pessoas que ama. Jamais desista de ser feliz. Lute sempre pelos seus sonhos. Seja profundamente apaixonado pela vida. Pois a vida é um espetáculo imperdível.
Augusto Cury
 
 
Um dia uma criança chegou diante de um pensador e perguntou-lhe: "Que tamanho tem o universo?". Acariciando a cabeça da criança, ele olhou para o infinito e respondeu: "O universo tem o tamanho do seu mundo". Perturbada, ela novamente indagou: "Que tamanho tem meu mundo?". O pensador respondeu: "Tem o tamanho dos seus sonhos".

Se seus sonhos são pequenos, sua visão será pequena, suas metas serão limitadas, seus alvos serão diminutos, sua estrada será estreita, sua capacidade de suportar as tormentas será frágil. Os sonhos regam a existência com sentido. Se seus sonhos são frágeis, sua comida não terá sabor, suas primaveras não terão flores, suas manhãs não terão orvalho, sua emoção não terá romances. A presença dos sonhos transforma os miseráveis em reis, faz dos idosos, jovens, e a ausência deles transforma milionários em mendigos faz dos jovens idosos. Os sonhos trazem saúde para a emoção, equipam o frágil para ser autor da sua história, fazem os tímidos terem golpes de ousadia e os derrotados serem construtores de oportunidades.

Sonhe!
Augusto Cury



E N C A N T O S

         Meu amigo,
         A vida deu a cada um de nós diversos encantos

       Não é encanto o que você mesmo apregoa

         Valiosos são os que são desvendados pelos outros 

O ser humano tem o péssimo hábito de acostumar-se com as novidades
Qualquer encanto pode ser anestesiado pelo massacrante cotidiano
Nossos olhos acomodam-se com a monotonia das cores
O que nos desperta são os movimentos, os brilhos. 
 
         O mau hábito transforma pessoas em coisas aos nossos olhos
         Quando estamos ensimesmados nem olhamos para os outros
         Também não permitimos que eles descubram nossos encantos
         Tornamo-nos coisas, deixamos de ser vida. 

A vida, que nos chama a atenção, desperta a nossa alma
Péssimo é coisificarmos também as pessoas que amamos
Lamentável é coisificarmo-nos para nós mesmos
Assim, não encontraremos nossas almas. 

         Exigimos de nós o que não pediríamos aos melhores amigos
         Não sejamos omissos, nem cúmplices tampouco coniventes
         Da íntima frustração que escurece nosso olhar 
 
Olhe para dentro de si e reconheça seus próprios encantos
...e que nossas vidas ganhem nova luz
                  com os brilhos dos nossos encantos

Dr. Içami Tiba
( Texto retirado do livro Amor, Felicidade & Cia )


Deixe a raiva secar...

Mariana ficou toda feliz porque havia ganhado de presente um joguinho de chá, todo azulzinho, com bolinhas amarelas. No dia seguinte Júlia, sua amiguinha, veio bem cedo convidá-la para brincar.
Mariana não podia porque ia sair com sua mãe naquela manhã. Júlia, então, pediu a coleguinha que lhe emprestasse o seu conjuntinho de chá para que ela pudesse brincar sozinha na garagem do prédio. Mariana não queria emprestar, mas, com a insistência da amiga, resolveu ceder, fazendo questão de demonstrar todo o seu ciúme por aquele brinquedo tão especial.
Ao regressar do passeio, Mariana ficou chocada ao ver o seu conjuntinho de chá jogado no chão. Faltavam algumas xícaras e a bandejinha estava toda quebrada. Chorando e muito nervosa, Mariana desabafou:
- Está vendo, mamãe, o que a Júlia fez comigo? Emprestei o meu brinquedo, ela estragou tudo e ainda deixou jogado no chão.
Totalmente descontrolada Mariana queria, porque queria, ir ao apartamento de Júlia pedir explicações. Mas a mamãe, com muito carinho ponderou:
- Filhinha, lembra daquele dia quando você saiu com seu vestido novo todo branquinho e um carro, passando, jogou lama em sua roupa? Ao chegar a sua casa você queria lavar imediatamente aquela sujeira, mas a vovó não deixou. Você lembra do que a vovó falou?
- Ela falou que era para deixar o barro secar primeiro. Depois ficava mais fácil limpar.
Pois é, minha filha! Com a raiva é a mesma coisa. Deixa a raiva secar primeiro. Depois fica bem mais fácil resolver tudo. Mariana não entendeu muito bem, mas resolveu ir para a sala ver televisão.
Logo depois alguém tocou a campainha. Era Júlia, toda sem graça, com um embrulho na mão. Sem que houvesse tempo para qualquer pergunta, ela foi logo falando:
- Mariana, sabe aquele menino mau da outra rua que fica correndo atrás da gente? Ele veio querendo brincar comigo e eu não deixei. Ai ele ficou bravo e estragou o brinquedo que você havia me emprestado. Quando eu contei para a mamãe ela ficou preocupada e foi correndo comprar outro brinquedo igualzinho para você. Espero que você não fique com raiva de mim. Não foi minha culpa.
- Não tem problema, disse Mariana, minha raiva já secou. E, tomando a sua coleguinha pela mão, levou-a para o quarto para contar a história do vestido novo que havia sujado de barro.
DEIXE A RAIVA SECAR, o tempo suficiente para você controlar seus impulsos ou para que as coisas possam ser mais bem compreendidas.

CARBONO PARA PLANEJAMENTO

            - Alô, é da casa da D. Mariazinha?
            - Sim, com quem deseja falar?
            - Com a própria. Aqui é Carmem, lá da mesma escola onde ela trabalha.
            - Pode falar Carmem, aqui quem fala é Mariazinha.
           - Mas que ótimo te pegar em casa. É sobre o maldito planejamento do ensino. Eu nem sei por onde começar e o meu diretor quer essa coisa pra manhã cedo.
       - Olha: pegue o mesmo do ano passado. Muda uma ou duas sentenças e entregue. Todo mundo faz isso...
          - Só que eu comecei a lecionar este ano, sabe? E a outra professora que eu substituí nem tinha plano. Dá pra você me ajudar?
            - Eu aqui em casa só tenho a minha cópia carbono. Acho que ela não dá xerox – está meio apagada...
            - Cópia carbono?
         - Lá na escola quem faz o plano é a Dona Chiquita. Ela datilografa as cópias com carbono para facilitar. Imagine você se eu vou perder tempo com isso. O diretor nem verifica: ele pega, dá uma olhada por cima e tranca na gaveta.
           - É mesmo é? E você tem por acaso o telefone da Chiquita? Vou entrar nessa também!
            - Deixa eu ver... aqui está: 23-8166. Só que ela cobra, viu?
            - Cobra? Quanto?
          - Serviço profissional, minha filha! Ou você acha que a colega ia trabalhar de graça? Já basta a exploração do governo. E com essa inflação, não sei o preço atual do plano. Mas vale, viu? Vem com capa e bem datilografado. Máquina elétrica e tudo... nem precisa revisar...
       - Obrigada pela recomendação. Vou ligar agora mesmo pra casa dela pra encomendar. Um abração.
            - Só mais um conselho antes de desligar: guarde uma cópia com você. Assim no ano que vem você não precisa tirar dinheiro do bolso de novo. É isso aí, tchau!
 


A outra janela

Conta-se que uma certa menina tinha um lindo cãozinho de estimação. Ela devotava muito carinho e atenção por ele. Todos os dias, ao cair da tarde, ficava na varanda de sua casa, olhando seu cãozinho brincar.
Certo dia, ao voltar da escola, percebeu um movimento intenso e algo estranho no ar...
- O que houve? Perguntou à sua mãe. O cãozinho morrera, um carro o atropelou e o matou.
Que tragédia, para aquela menina! Após uns dias isolada no quarto, curtindo sua tristeza, ela passou a adotar um comportamento estranho.
Todos os dias, ao cair da tarde, ficava na janela do seu quarto, olhando para o portão da casa, numa ingênua ilusão, esperando ver seu cãozinho voltar. Assim ficou por muitos dias.
Até que, seu pai com o coração partido por ver a filha assim, tomou-a nos braços e disse: - Filha, lá em nosso jardim nasceu uma linda flor. Venha, mude de janela!
Nossa existência é semelhante a uma casa de muitas janelas, que possibilita a contemplação de várias paisagens. O problema é que muitos fazem da vida uma casa de uma única janela. E ali, ficam debruçadas, por anos.
Quando alguém age assim, o foco da sua atenção fica limitado, possibilitando-o de ver outras paisagens. Na vida, às vezes, temos que mudar de janela, para contemplar o novo ao nosso redor.
Uma janela que precisa ser fechada é a do ressentimento.
Quem fica debruçado sobre esta janela olha a vida pelo ângulo da amargura, do desencanto, da tristeza profunda. A pessoa ressentida, perde a confiança no amor, não investe em novos relacionamentos, fecha as portas para o perdão e tem visão muito negativa da vida. É como olhar para o céu e só enxergar nuvens escuras.
Mude de janela! Abra o coração para o perdão. A janela do perdão nos faz mais humanos, mais tolerantes, mais cheios de graça e beleza interior. Outra janela que precisa ser fechada é a do medo.
O medo é um mal terrível. É a doença mais grave do nosso século. Milhares de pessoas estão fixadas nesta janela. Somente vêem os perigos, os obstáculos, as dificuldades. Na mente delas não existem sonhos, só pesadelos.
Quem fica a olhar a vida através da janela do medo, só contempla o caos. Troque a janela do medo, pela da coragem. Ela desperta em nós a determinação e o otimismo. Contemple, através da coragem, as conquistas dos vitoriosos. O medo é como o câncer fatal.
Mude de janela! Medo é a derrota antecipada. Terrível é a vida dos que se fixaram na janela do passado. Não vêem nada em sua frente a não ser motivos para lamentar.
Quem vive debruçado sobre o passado não consegue vislumbrar o futuro. São pessoas que vivem na pré-história: - ah! Quando eu era jovem; quando eu era solteiro! Ah! Se o tempo voltasse!
Mude para a janela da esperança. Ela nos faz sonhar com dias melhores. Quem quer vencer na vida, precisa ter a reflexão no passado, os pés no presente e os olhos no futuro, e caminhar sempre nessa direção!...
Mude de janela e veja que você não está só. Deus está ao seu lado, talvez, naquela flor que nasceu e você não percebeu porque se tornou escravo de uma janela só. Outras janelas podem significar novos sonhos e novos dias.
No Amor de Cristo
(Desconheço autoria)
 

                        A LIBERDADE DE SER LIVRE

Uma pessoa preocupada com a opinião dos outros não é livre.
Uma mente preocupada com o que poderá acontecer ou deixar de acontecer no futuro também não é livre.
Menos livre é a mente apegada ao passado, às realizações ou insucessos passados.
Para sermos verdadeiramente livres, precisamos ultrapassar nossos condicionamentos culturais. Libertar-nos para sermos nosso verdadeiro "EU".
Esta é a liberdade que o mundo mais precisa hoje.
O livre arbítrio exige uma mente livre, não uma mente condicionada pelos medos e pelos apegos.
Mas, antes que fiquemos demasiadamente eufóricos, devemos lembrar que não existe a certeza de que vamos mesmo ter sucesso na liberação de nossa mente desse poderoso condicionamento.
Podemos dizer , na verdade, que o trabalho real - o trabalho de despertar a nós mesmos - é um trabalho que está apenas se iniciando e que exige um considerável trabalho interior, uma formidável tarefa de auto-liberação.



A HISTÓRIA DO LÁPIS
            Um  menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura perguntou-lhe:
            - Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso é uma história sobre mim?
            A avó parou a carta, sorriu e comentou com o neto:
            - Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele quando crescesse.
            O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.
-  Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!
            A avó respondeu:
- Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será uma pessoa em paz com o mundo.
            1ª qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma mão que guia seus passos.. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade.
            2ª qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque eles o farão ser uma pessoa melhor.
            3ª qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir algo que fazemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça.
            4ª qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que está dentro de você.
            Finalmente a 5ª qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira saiba que tudo que você fizer na vida irá deixar traços e, procure ser consciente de cada ação.

 


A Mesa do Avô
Autor Desconhecido

Um frágil e velho homem foi viver com seu filho, a nora, e o seu neto mais velho, de quatro anos. As mãos do velho homem tremiam, a vista era embaralhada, e o seu passo era hesitante. A família, todos os dias, reunia-se à mesa para jantar. Mas com mãos tremulas e a vendo mal, tornou-se cada vez mais difícil o acto de comer. As ervilhas rolavam da colher para o chão. Derramava o leite. A confusão irritou fortemente o filho e a nora:
"Nós temos que fazer algo sobre o Vovô," disse o filho.
"Já tivemos bastante do seu leite derramado, ouvindo-o comer ruidosamente, e muito de sua comida no chão".
Assim, marido e esposa prepararam uma mesa pequena no canto da sala. Lá, Vovô comia sozinho, enquanto o resto da família desfrutava do jantar.
Desde que o Avô tinha quebrado um ou dois pratos, a comida dele era servida em uma tigela de madeira.
Quando olhavam para o Vovô, às vezes pensavam que notavam uma lágrima, por estar só. Ainda assim, as únicas palavras que o casal tinha para ele eram de advertência a cada vez que ele derrubava um garfo ou derramava comida.
O neto assistia tudo em silêncio. Uma noite, antes do jantar, o pai notou que o filho estava brincando, sentado no chão, com sucatas de madeira.
E perguntou docemente para a criança, "O que estás fazendo?" Da mesma maneira dócil , o menino respondeu: "Estou fabricando uma pequena tigela para Você e Mamãe comerem sua comida quando eu crescer." Sorriu e voltou a trabalhar.
As palavras do menino golpearam os pais, que ficaram mudos.
Então, lágrimas começaram a fluir em seus rostos. Nenhuma palavra foi falada, mas ambos souberam o que devia ser feito.
Naquela noite o marido pegou a mão do Vovô e com suavidade conduziu-o para a mesa familiar.
Para o resto de seus dias de vida ele comeu sempre com a família. E por alguma razão, desse dia em diante, nem marido nem esposa pareciam preocupados quando um garfo era derrubado, ou leite derramado, ou que a toalha da mesa tinha sujado.
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A escola é boa, o que atrapalha são as aulas...
O condomínio é bom, o que atrapalha são as regras...

Por que a escola é boa? Porque tem um monte de jovens. É a oportunidade de verem outros jovens e também por estes serem vis-. r   A escola ainda não encontrou um excelente caminho para resolver este delicado relacionamento entre professores (adultos) e alunos (adolescentes). A convivência obrigatória através de aulas torna pesada a ida dos alunos à escola.
É também nos condomínios, verticais ou horizontais, que os jovens se reúnem para o "prazer do nada fazer junto com amigos"... até que sejam interrompidos por algum condômino, síndico ou zelador, para que a ordem e a paz sejam restabelecidas...
Para o jovem, mais do que vontade, é quase uma necessidade relacionar-se com outros jovens. Isto porque a adolescência é um segundo parto, um nascer da família para ganhar as ruas, para caminhar com as próprias pernas e escolher a dedo com quem vai se aventurar pela vida afora. Ou seja, o adolescente precisa de outros adolescentes para o seu desenvolvimento social.
É quando ele vai encontrar o melhor amigo, a paquera, a namorada, a sua turma, o seu território... É quando os amigos falam mais alto que os próprios pais, quando com a turma faz "coisas" que sozinho, ou na presença dos pais, não faria. É quando vai pôr em prática a luta para conquistar um lugar de destaque depois de sentir-se enturmado, através do competição, da demonstração de habilidades, do paixão (nem sempre confessada) pela garota (ou garoto) "inatingível", do ódio aos estudos, de fazer o que tem vontade. Defende com unhas e dentes seu território geográfico e afetivo contra intrusos ao mesmo tempo que quer invadir outras áreas.
Mais do que a escola ou um shopping, o condomínio oferece as condições ideais para a formação das turmas de adolescentes. Os pais pertencem à mesma faixa sócio-econômica, mesmo que sejam de origens, credos e raças diferentes, e aspiram aos seus filhos estilos de vida muito próximos. Eles acreditam que seus filhos estão seguros dentro dos condomínios, que podem visitar uns aos outros, que podem receber amigos "de fora" enquanto eles, tanto pai quanto mãe, trabalham.
Nos condomínios mais preparados há praças e clubes onde os adolescentes podem se encontrar em público e aprontar escondido, como, por exemplo, fumar maconha na casa das máquinas, nos cantos dos garagens e até mesmo em locais mais retirados, pouco usados, escuros, onde normalmente adultos não transitam.
Faço menção à maconha porque atendi muitos adolescentes envolvidos com drogas e deles tenho ouvido o quanto é fácil fumá-la, principalmente em condomínios. Numa linguagem entre usuários, "ligalaise" é aquele lugar onde eles podem fumar a maconha sem serem perturbados. No maior parte das vezes ocorre quando os pais estão fora durante a tarde e o filho usuário chama seus amigos para fumarem juntos, dar um "pega" quando algum deles ,"apresenta" um baseado.
0 único cuidado que eles têm que tomar é não deixar vestígios ou "palas" (janelas escancaradas, mesmo no maior frio, incenso, bom ar, apetrechos canábicos, sementinhas e gravetinhos pelos cantinhos do quarto) para que os pais nada percebam quando voltarem ao doce lar. Nem é preciso falar que há pais que toleram a presença de maconha e outros poucos que, apesar de não aprovarem seu uso, permitem que fumem em casa, usando os mais variados argumentos. Para não insistir neste tema, aos interessados sugiro que leiam especialmente o capítulo Condomínio: paraíso dos drogas, do meu livro 'Anjos Caídos - Como prevenir e eliminar as drogas no vida do adolescente".
Dr. Içami Tiba

A ACOMODAÇÃO NOSSA DE CADA DIA
Antônio Roberto Soares

Há alguns anos atrás, eu acreditava que as circunstâncias externas eram realmente 100% responsáveis pelo sofrimento das pessoas.
Hoje penso bastante diferente, porque as mesmas circunstâncias em que algumas pessoas optam pela loucura, outras optam pelo crescimento, pela mudança, pela renovação.
Jamais poderia deixar de ver os aspectos negativos da realidade. Conheço-os bem e sei de suas terríveis influências.
Mas a questão que se coloca para cada um é:
n  O que você vai fazer com isto?
n  Qual é a sua posição após constatar a falência de tudo ao seu redor?
n  Quais são, ainda, os seus sonhos, seus desejos, suas lutas, após isso tudo?
Quando se deseja realmente algo, do fundo do coração, alguma coisa se faz para alcançá-lo e nasce a alegria só de tentá-lo.
A acomodação é a forma mais sutil de deterioração e morte, mas, de todos os cantos do mundo estão surgindo apelos de mudança diante da realidade.
Pessoas apáticas, queixosas, revoltadas apenas no falar, estão dando lugar a um novo tipo de pessoas: pessoas que a par dos seus limites e das dificuldades da realidade, querem tentar, pois acreditam verdadeiramente que é preferível morrer vivendo do que viver morrendo.
E a esperança? É a antítese da doença da acomodação.
É a crença de que enquanto estivermos vivos, podemos descobrir novos rumos, novos caminhos, novas maneiras de lidarmos com o mundo.
Todas as pessoas são responsáveis pelas suas escolhas e enquanto estivermos vivos, estaremos escolhendo sempre.
Cada vez que compareço ao trabalho estou escolhendo trabalhar alí.
Cada vez que me relaciono com alguém, estou escolhendo relacionar-me com aquele alguém.
Cada vez que decido continuar vivendo como estou vivendo, sou responsável por isso.
E se as escolhas que faço permanecem me fazendo sofrer, quem é o responsável?
As circunstâncias ou eu?
A ARTE DE PRODUZIR FOME
Rubem Alves

Adélia Prado me ensina pedagogia. Diz ela: "Não quero faca nem queijo; quero é fome". O comer não começa com o queijo. O comer começa na fome de comer queijo. Se não tenho fome é inútil ter queijo. Mas se tenho fome de queijo e não tenho queijo, eu dou um jeito de arranjar um queijo...
Sugeri, faz muitos anos, que, para se entrar numa escola, alunos e professores deveriam passar por uma cozinha. Os cozinheiros bem que podem dar lições aos professores. Foi na cozinha que a Babette e a Tita realizaram suas feitiçarias... Se vocês, por acaso, ainda não as conhecem, tratem de conhecê-las: a Babette, no filme "A Festa de Babette", e a Tita, em "Como Água para Chocolate". Babette e Tita, feiticeiras, sabiam que os banquetes não começam com a comida que se serve. Eles se iniciam com a fome. A verdadeira cozinheira é aquela que sabe a arte de produzir fome...
Quando vivi nos Estados Unidos, minha família e eu visitávamos, vez por outra, uma parenta distante, nascida na Alemanha. Seus hábitos germânicos eram rígidos e implacáveis.
Não admitia que uma criança se recusasse a comer a comida que era servida. Meus dois filhos, meninos, movidos pelo medo, comiam em silêncio. Mas eu me lembro de uma vez em que, voltando para casa, foi preciso parar o carro para que vomitassem. Sem fome, o corpo
se recusa a comer. Forçado, ele vomita.
Toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. Não confundir afeto com beijinhos e carinhos. Afeto, do latim "affetare", quer
dizer "ir atrás". É o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. É o Eros platônico, a fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado.
Eu era menino. Ao lado da pequena casa onde morava, havia uma casa com um pomar
enorme que eu devorava com os olhos, olhando sobre o muro. Pois aconteceu que uma árvore cujos galhos chegavam a dois metros do muro se cobriu de frutinhas que eu não conhecia.
Eram pequenas, redondas, vermelhas, brilhantes. A simples visão daquelas frutinhas vermelhas provocou o meu desejo. Eu queria comê-las. E foi então que, provocada pelo meu desejo, minha máquina de pensar se pôs a funcionar. Anote isso: o pensamento é a ponte que o corpo constrói a fim de chegar ao objeto do seu desejo.
Se eu não tivesse visto e desejado as ditas frutinhas, minha máquina de pensar teria permanecido parada. Imagine se a vizinha, ao ver os meus olhos desejantes sobre o muro, com dó de mim, tivesse me dado um punhado das ditas frutinhas, as pitangas. Nesse caso, também minha máquina de pensar não teria funcionado. Meu desejo teria se realizado por meio de um atalho, sem que eu tivesse tido necessidade de pensar. Anote isso também: se o desejo for satisfeito, a máquina de pensar não pensa. Assim, realizando-se o desejo, o pensamento não acontece. A maneira mais fácil de abortar o pensamento é realizando o desejo. Esse é o pecado de muitos pais e professores que ensinam as respostas antes que tivesse havido perguntas.
Provocada pelo meu desejo, minha máquina de pensar me fez uma primeira sugestão, criminosa. "Pule o muro à noite e roube as pitangas." Furto, fruto, tão próximos... Sim, de fato era uma solução racional. O furto me levaria ao fruto desejado. Mas havia um senão: o medo. E se eu fosse pilhado no momento do meu furto? Assim, rejeitei o pensamento criminoso, pelo seu perigo.
Mas o desejo continuou e minha máquina de pensar tratou de encontrar outra solução: "Construa uma maquineta de roubar pitangas". McLuhan nos ensinou que todos os meios técnicos são extensões do corpo. Bicicletas são extensões das pernas, óculos são
extensões dos olhos, facas são extensões das unhas.
Uma maquineta de roubar pitangas teria de ser uma extensão do braço. Um braço comprido, com cerca de dois metros. Peguei um pedaço de bambu. Mas um braço comprido de bambu, sem uma mão, seria inútil: as pitangas cairiam.
Achei uma lata de massa de tomates vazia. Amarrei-a com um arame na ponta do bambu. E lhe fiz um dente, que funcionasse como um dedo que segura a fruta. Feita a minha máquina, apanhei todas as pitangas que quis e satisfiz meu desejo. Anote isso também: conhecimentos são extensões do corpo para a realização do desejo.
Imagine agora se eu, mudando-me para um apartamento no Rio de Janeiro, tivesse a idéia de ensinar ao menino meu vizinho a arte de fabricar maquinetas de roubar pitangas. Ele me olharia com desinteresse e pensaria que eu estava louco. No prédio, não havia pitangas para serem roubadas. A cabeça não pensa aquilo que o coração não pede. E anote isso também: conhecimentos que não são nascidos do desejo são como uma maravilhosa cozinha na casa de um homem que sofre de anorexia. Homem sem fome: o fogão nunca será aceso. O banquete nunca será servido.
Dizia Miguel de Unamuno: "Saber por saber: isso é inumano..." A tarefa do professor é a mesma da cozinheira: antes de dar faca e queijo ao aluno, provocar a fome... Se ele tiver fome, mesmo que não haja queijo, ele acabará por fazer uma maquineta de roubá-los. Toda tese acadêmica deveria ser isso: uma maquineta de roubar o objeto que se deseja...



Professores & professauros

Celso Antunes

Que se imagine uma outra galáxia e, nesta, um planeta habitado. Com civilização bem mais antiga que a da Terra, apresenta progresso material e moral bem mais avançado que o nosso. Nesse planeta, um pesquisador resolve conhecer um pouco sobre como se desenvolve a educação em um outro mundo habitado, agora bem mais atrasado, e que se chama Terra. Valendo-se da notável tecnologia que sua avançada cultura alcançou, disfarça-se em estudante terráqueo e, após muitas aulas que observa, prepara seu relatório, destacando que no planeta visitado encontrou dois tipos de ensinantes que, trabalhando com as mesmas dificuldades e regalias no mesmo espaço, apresentam significativas diferenças entre si. Para diferenciar profissionais assim tão díspares, chama o primeiro de "professores" e os outros de "professauros", por identificar, nestes últimos, formas de pensamento comuns ao período Cretáceo, dominado pelos grandes dinossauros. Segue, extraído desse original relatório, algumas diferenças essenciais entre os dois.

Quanto ao ano letivo que se inicia:
Para os professores, uma oportunidade ímpar de aprender e crescer, um momento mágico de revisão crítica e decisões corajosas; para os professauros, o angustiante retorno a uma rotina odiosa, o eterno repetir amanhã tudo quanto de certo e de errado se fez ontem.

Quanto aos alunos que acolhem:
Para os professores, a alegria de percebê-los cada vez mais sabidos e curiosos e a vontade de fazê-los efetivos protagonistas das aulas que ministrarão. A certeza de que não os ensinarão, mas poderão contribuir de forma decisiva para iluminar suas inteligências e afiar suas muitas competências. Para os professauros, nada mais que chatíssimos clientes que transformados em espectadores pensarão sempre mais na indisciplina que na aprendizagem, na vagabundice que no crescimento interior.

Quanto às aulas que deverão ministrar:
Para os professores, um momento especial para propor novas situações de aprendizagens pesquisadas e através das mesmas provocar reflexões, despertar argumentações, estimular competências e habilidades; para os professauros, nada além que a repetitividade de informações que estão nos livros e apostilas e a solicitação de esforço agudo das memórias para acolher o que se transmite, ainda que sem qualquer significação e poder de contextualização ao mundo em que se vive.

Quanto aos saberes que se trabalhará:
Para os professores, um volume de informações que necessitará ser transformado em conhecimentos, uma série de veículos para que com eles se aprenda a pensar, criar, imaginar e viver; para os professauros, trechos cansativos de programas estáticos que precisam ser ditos, ainda que não se saiba por que fazê-lo.

Quanto à vida que se vive e os sonhos que se acalanta:
Para os professores, desafios a superar, esperanças a aguardar, conhecimentos para cada vez mais se aprender, a fim de se fazer da arte de amar o segredo do viver; para os professauros, a rotina de se trabalhar por imposição, casar por obrigação, fazer filhos por tradição, empanturrar-se para depressa se aposentar e quanto antes morrer.
O relatório do pesquisador espacial prossegue, mas não é objetivo desta crônica pelo mesmo avançar. O que com a mesma, efetivamente, se pretende são duas singelas interrogações. Você descobre em colegas que conhece quem pertence a uma e a outra categoria? E você, prezado amigo ou amiga, com sinceridade, a que categoria pertence?

Nem todos os dinossauros estão extintos!
Mal entrou na sala e já foi tratando de deixar as coisas às claras: - Vamos lá, pessoal. Uma carteira atrás da outra, bem enfileirada. Isso mesmo. Você aí, Henrique, não ouviu? Já escutou talar em "ordem unida?" E isso aí, todas enfileiradas, direitinho. Comigo não existe isso de carteiras bagunçadas, esparramadas de qualquer maneira pela sala. Muito bem, agora tratem de deixar sobre a carteira todo material que precisam usar em aula, mas somente o material que vai ser usado. Sem excesso e sem falta. Portanto, canetas de três cores diferentes, lápis, régua, borracha, caderno, livro. Beleza, pessoal. A aula não pode começar se as carteiras não estão organizadas. Cada coisa em seu lugar; estejam atentos porque vou percorrer carteiras, uma a uma, e fiscalizar tudo.
- Bem, turma. Agora que a classe já não mais está em bagunça e agora que as carteiras estão arrumadas como devem ser arrumadas. prestem atenção, a aula vai começar. Vou dividir a matéria em partes e explicar cada uma delas. Ouçam, pensem, reflitam e perguntem, pois assim que vocês terminarem de perguntar será a minha vez de interrogá-los, e ai dos que não souberem. Acertar não vale nota porque é obrigação de todo estudante, mas errar é prova de falta de atenção e para cada erro eu tiro um ponto.
Se perder mais de três em uma aula só, exijo a presença do pai ou da mãe para me ajudar na educação. Não quero choradeira no final do ano. Fui claro?
Claríssimo. Não poderia ser maior a transparência dos recados. Tudo pronto para a aula começar...
Era assim que se pensava "aula" há trinta anos atrás. O professor era o centro do processo de ensino e o aluno apenas um receptor de saberes que, aula a aula, ia acumulando. Quem não acumulava o suficiente poderia ser corrigido com um castigo ou uma reprovação. Pena que ainda existam aulas ministradas dessa forma. Há trinta anos não havia o celular, os
computadores não eram o que hoje são e uma simples viagem de São Paulo a Ubatuba não demorava menos que seis horas. Nesses trinta anos o mundo mudou, a medicina evoluiu, a tecnologia avançou, os transportes se aceleraram. Mas ainda existem aulas em que o professor é  o centro do processo de aprendizagem. Nem todos os dinossauros foram extintos2.

 
O vocábulo “dinossauro” não abriga qualquer intenção pejorativa. Refere-se a professores de “outros tempos” que, na escola atual, insistem na prática de procedimentos comuns em uma instituição que já não mais pode existir.

 

 

Você é o que é porque...

Certa vez fiquei muito revoltado ao ouvir uma frase de um grande e querido amigo. Fiquei muito triste e deixei de falar com ele por um bom tempo. Concluí que ele não gostava de mim e parecia que ao dizer aquilo estava selando o fim de nossa longa e não tão bela amizade, que não queria mais me ver ou coisa assim.
Fiquei arrasado e imaginando que ninguém se importava com meus problemas, que eu estava sozinho no mundo e não tinha a quem recorrer. Minhas dificuldades eram tantas que já não sabia mais o que fazer.
Retirei-me para o meu pequeno “mundinho” e me acomodei com a situação, ora tentando esquecer, ora me lamentando de tanto sofrimento. Aí, veio o desânimo, a falta de objetivos na vida, a depressão, uma doença ruim, o desemprego, a fome, a separação da família e muitas outras coisas ruins.
Depois de algum tempo, com aquele ditado martelando meu cérebro todos os dias, num momento de assustadora lucidez, compreendi o seu significado e como eu estava errado em meu julgamento.
Voltei à casa do ex-amigo e arrependido agradeci imensamente a ele, meu pai, por tão duras e sábias palavras:
“Você é o que é, e está onde está, puramente por sua própria vontade! Ninguém tem culpa de sua incompetência!”
Daí em diante, tomei o volante do carro de minha vida e passei a dirigí-lo conforme meus planos e hoje, graças a Deus, ao meu pai e a tantos amigos que conquistei pela vida, já curado da doença e da minha estupidez, estou certo que posso fazer qualquer coisa por mim e pelos que me rodeiam, sejam parentes, amigos ou simples desconhecidos que passam por mim. Não há mais medo, só coragem e entusiasmo!
Mesmo que você não goste da idéia e que ninguém lhe tenha dito esta frase, eu tomo a liberdade de repetí-la:
“Você é o que é, e está onde está, puramente por sua própria vontade!”
“Viva para atingir o seu potencial! Sua vida não tem limites! Depende só de você!”
Obrigado por sua existência, você é a pessoa mais importante do universo, pois me proporciona a chance de aprender um pouco mais sobre você, os seres humanos e a vida.
Dermeval Pereira Neves
 

Você é o que é porque...
Certa vez fiquei muito revoltado ao ouvir uma frase de um grande e querido amigo. Fiquei muito triste e deixei de falar com ele por um bom tempo. Concluí que ele não gostava de mim e parecia que ao dizer aquilo estava selando o fim de nossa longa e não tão bela amizade, que não queria mais me ver ou coisa assim.
Fiquei arrasado e imaginando que ninguém se importava com meus problemas, que eu estava sozinho no mundo e não tinha a quem recorrer. Minhas dificuldades eram tantas que já não sabia mais o que fazer.
Retirei-me para o meu pequeno “mundinho” e me acomodei com a situação, ora tentando esquecer, ora me lamentando de tanto sofrimento. Aí, veio o desânimo, a falta de objetivos na vida, a depressão, uma doença ruim, o desemprego, a fome, a separação da família e muitas outras coisas ruins.
Depois de algum tempo, com aquele ditado martelando meu cérebro todos os dias, num momento de assustadora lucidez, compreendi o seu significado e como eu estava errado em meu julgamento.
Voltei à casa do ex-amigo e arrependido agradeci imensamente a ele, meu pai, por tão duras e sábias palavras:
“Você é o que é, e está onde está, puramente por sua própria vontade! Ninguém tem culpa de sua incompetência!”
Daí em diante, tomei o volante do carro de minha vida e passei a dirigí-lo conforme meus planos e hoje, graças a Deus, ao meu pai e a tantos amigos que conquistei pela vida, já curado da doença e da minha estupidez, estou certo que posso fazer qualquer coisa por mim e pelos que me rodeiam, sejam parentes, amigos ou simples desconhecidos que passam por mim. Não há mais medo, só coragem e entusiasmo!
Mesmo que você não goste da idéia e que ninguém lhe tenha dito esta frase, eu tomo a liberdade de repetí-la:
“Você é o que é, e está onde está, puramente por sua própria vontade!”
“Viva para atingir o seu potencial! Sua vida não tem limites! Depende só de você!”
Obrigado por sua existência, você é a pessoa mais importante do universo, pois me proporciona a chance de aprender um pouco mais sobre você, os seres humanos e a vida.
Dermeval Pereira Neves

MESES DO ANO