terça-feira, 19 de maio de 2015




Frases e Pensamentos

"O fracasso é o sucesso em processo! Desistir de um sonho é o mesmo que anunciar que você está morrendo. A persistência é a mãe do sucesso. É ela que, mais cedo ou mais tarde, materializa os nossos sonhos." Marcelo de Almeida
Marcelo de Almeida

Nunca cometi um erro na minha vida, pelo menos um que eu próprio, mais tarde, não pudesse explicar.
Rudyard Kipling



 Palavra de Hoje !

Não desista,não pare de crer os sonhos de Deus jamais vão morrer!
Ainda que você esteja abatido e desanimado,continue a lutar,não esmoreça,persevere a vitória vem para aqueles que não desistem e esperam no Senhor !



trajetória de nossa vida pode ser comparada ao processo da borboleta. Nascemos com certas características, passamos por situações que nos propiciam aprendizado e lapidação do nosso estado e estamos sempre em busca de nos tornarmos melhores voando em todas as direções com asas multicoloridas. Portanto na simbologia "borboleta" significa: transformação, alma, libertação, sorte, sensualidade, psiquê. No Japão, a borboleta está associada à mulher



Se calar em certas situações é o mesmo que nos salvarmos da tolice alheia. A gente acaba se vencendo pela ira que sentimos e vencendo o outro pelo tanto que nos provoca. Isto sim é sabedoria , é inteligência , é coisa de gente que acolhe a paz

o que transmitimos, então vamos vibrar na sintonia boa, do amor, sabedoria, do belo, do bem... vamos ter pensamentos positivos e altruístas e com certeza o universo nos devolvera em dobro tudo que lançamos de bom!

Pense Nisso!

Sol Pinheiro

 



Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge... Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo. Não poderei ler todos os livros que desejo, Não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de "abrir mão" , a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.
Rubem Alves



É tão bonito a gente desenhar um sonho ao lado de alguém. De olhar no fundo do olho da pessoa e saber que é ela. Isso é único. E muito, muito especial. Quem tem um amor assim sabe do que estou falando. É uma sensação quase inexplicável de paz. Acho que é o mais próximo que conseguimos chegar de nós mesmos."

Clarissa Corrêa



 gente sempre quer garantias. Garantia de que vai dar certo, garantia de estar fazendo a melhor escolha, garantia do melhor, garantia do amor dos outros...tudo ilusão...Nos estressamos, nos preocupamos, ficamos ansiosos por garantias que não existem.Não há garantias, há apostas. Aposte no que acredita, no que você sente, aposte na direção que seus instintos apontam. Arrisque-se a ser feliz, a realizar seus sonhos. Para isso é preciso ter coragem de ir, mesmo sabendo que não há como garantir nada e ainda assim, ir. A única garantia que você precisa é do seu auto-apoio, haja o que houver.



Desejo que o entendimento aconteça no olhar. Que as palavras sejam estilingues e não pedras. Desejo que haja tolerância e muita paciência.
Que os defeitos de um, não machuquem o outro. Que as qualidades de um, não ofusquem o outro. Desejo que o tempo seja generoso. Que os dias passem em paz. Desejo que a rotina não seja cruel. Que a paixão seja sempre descoberta. Que o abraço seja sempre conforto.
Desejo que as vontades caminhem de mãos dadas. Que as diferenças e distâncias só sirvam para aproximar.
Briza Mulatinho




Muitas vezes o silêncio é a melhor resposta, porque palavras em excesso tornam-se desnecessárias quando não são para edificar.
O silêncio responde, o silêncio acalma e nos faz entender o que palavras não expressam. Então silencie nos momentos mais difíceis e peça a Deus para resolver, Ele é sábio, e sempre age ao nosso favor.
O segredo de um vencedor é saber a hora de falar e a hora de silenciar para que Deus fale por nós.

Yla Fernandes
 



"As pedras que são lançadas nos acusando pelo nosso passado, não nos atingirão se mudarmos o nosso percurso, a vida é feita de etapas, cada uma delas com um propósito diferente, isso quer dizer que nem todas serão maravilhas, portanto, quando vier a tempestade não fuja nem tenha medo, pois esta logo passará e o sol surgirá intensamente para seu alívio."


"Aprendi com o Mestre da Vida que viver é uma experiência única, belíssima, mas brevíssima. E, por saber que a vida passa tão rápido, sinto necessidade de compreender minhas limitações e aproveitar cada lágrima, sorriso, sucesso e fracasso como uma oportunidade preciosa de crescer."
Augusto Cury


“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.”
Cora Coralina



Seja o teu destino escrito pelas flores que tu espalhaste.
Pelo calor que os acolhidos sentiram em teus braços.
Pelo apoio concedido por tua mão.
Seja teu destino escrito, por todo bem, que te foi permitido fazer.

Gi Stadnicki.
 

Quem não compreende um olhar, tampouco compreenderá uma longa explicação.
Mário Quintana
 





Lindo é quando alguém escolhe pousar ao teu lado, podendo voar. Podendo encontrar até outros ninhos, outros caminhos, escolhe ficar.

Desc. Autor


Eu convido você a viver intensamente mais esse dia!
Que você, sua casa, e sua Família sejam abençoados abundantemente, que todos os seus planos e seus projetos venham se concretizar durante essa nova semana,que as vitórias sejam grandes e que a presença de Deus seja sua constante companhia em todos os dias de sua vida ! Desejo que milagres aconteçam e que você conheça o sobrenatural de Deus,que ...Deus restaure suas forças sua Fé e todos os seu membros, órgãos, medula sejam tocados e curados! Deus está te restaurando agora desde a Raiz do cabelo até a planta dos pés,está retirando toda tristeza e angustia que está ai no seu coração! A partir de agora você está liberto dessas doenças e dessas tristezas que assolam sua alma,você é uma nova criatura!Somente a Paz e o amor farão parte dos seus dias,chega de sofrimento agora é só você cantar o Hino da Vitória!
Abençoado seja o seu Dia amizade querida

Andreia Godoi


Eu convido você a viver intensamente mais esse dia!
Que você, sua casa, e sua Família sejam abençoados abundantemente, que todos os seus planos e seus projetos venham se concretizar durante essa nova semana,que as vitórias sejam grandes e que a presença de Deus seja sua constante companhia em todos os dias de sua vida ! Desejo que milagres aconteçam e que você conheça o sobrenatural de Deus,que ...Deus restaure suas forças sua Fé e todos os seu membros, órgãos, medula sejam tocados e curados! Deus está te restaurando agora desde a Raiz do cabelo até a planta dos pés,está retirando toda tristeza e angustia que está ai no seu coração! A partir de agora você está liberto dessas doenças e dessas tristezas que assolam sua alma,você é uma nova criatura!Somente a Paz e o amor farão parte dos seus dias,chega de sofrimento agora é só você cantar o Hino da Vitória!
Abençoado seja o seu Dia amizade querida

Andreia Godoi

O tempo de Deus é diferente do nosso. O relógio de Deus não corre na mesma velocidade que o nosso. O capítulo 3 de Eclesiastes confirma isso:
"Para tudo há uma ocasião certa, há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: Tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de jogar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz." (Eclesiastes 3:1-8)

Tenha fé, não desista nunca!
Sempre há muitos desafios, surpresas, tristezas e alegrias. A vida é assim, às vezes nos deparamos com situações que nos afligem, nos fazem sentir medo e até mesmo chorar, mas saiba que a cada momento da vida, cada lágrima caída, cada sorriso dado, está tudo anotado no diário de Deus.
E pode ter certeza que nem um segundo Ele esqueceu de anotar… Anotou suas lutas, seus choros, mas com um detalhe: Ele não esqueceu de anotar o dia de sua vitória!
Não desista dos seus projetos e sonhos porque antes mesmo deles serem projetados por você, já foi projetado e anotado por Deus. Não desista nunca, Deus está contigo!

Os planos de Deus são maiores
Às vezes não entendemos por que as coisas ocorrem de determinadas maneiras, imaginamos que seria tão bom de fossem diferentes, seria tudo tão mais fácil. Mas o que não entendemos é que os planos de Deus para nós são maiores do que os nossos.
Que não enxergamos como Ele, nossa mente é finita. Não conseguimos nem imaginar as maravilhas que Ele prepara para nossa vida.
É por isso que temos que confiar, deixar as coisas na mão Dele e não nos preocuparmos com o que há de ser, porque os planos de Deus são maiores que os nossos e muitas vezes não vamos compreender!


Deus não te abandona
Sempre que as coisas estiverem ruins, lembre-se que Deus não dá a carga maior do que seu corpo suporta. Então, leve isso como um aprendizado. Tudo aquilo que faz você sofrer, de certa forma, também te faz mais forte.
Então, tenha fé que Deus transformará seu choro em riso, sua luta em vitória, seu sonho em realidade e suas dores em cicatrizes de sobrevivência. Não desista dos seus sonhos e confie sempre Nele! A vitória tem um sabor muito mais gostoso quando é buscada com perseverança e esperança. Boa sorte em seu caminho!

Com certeza!

Banana para a tristeza!



Eu estou nas Tuas mãos

Senhor, que seja feita a Tua vontade, que seja feito o Teu querer, que os Teus planos se cumpram em minha vida e, se houver algo que esteja impedindo das Tuas promessas chegarem até mim, eu repreendo agora.
Pai me dá graça para esperar o Teu tempo, pois o Teu tempo é perfeito, eu sou humano e sou falho, mas em ti eu sou mais que vencedora. Em Ti eu posso todas as coisas, em Ti eu consigo vencer a mim mesmo, e calar a voz do meu coração. Em Ti Senhor encontro esperança, encontro estratégia, encontro sabedoria para seguir avante, e jamais recuar.
Cuida de mim, e ensina-me cada passo Teu, eu estou nas Tuas mãos, ó Deus! Então usa-me, eis-me aqui, Senhor… Rendido a Ti estou!

Coisas



. Eu não necessito de um motivo especial para ser feliz. Felicidades são pedacinhos de ternura que colho aqui e ali.
Cecília Meireles



Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre. E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
Mário Quintana


Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto. É como se abrisse o mesmo livro. Numa página nova.
(Mário Quintana)
 

"Tem gente que nasceu para ajudar, para acrescentar na vida da (gente). É igual anjo,está sempre ali dando força, pronto para nos guiar. Gosto de gente assim, que nos faz prosseguir. Mesmo sabendo que o caminho não é tão fácil assim. Gente que simplesmente – cuida da (gente)."
Thalita Souza

É bem isso...




As mais belas flores nascem após os rigorosos invernos. Não tenha medo das dificuldades da vida, pois podem lhe trazer grandes jardins.
Augusto Cury

*****

O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes.
Cora Coralina

*****

Lindo!

Dicas de convivência!

Oração pelos filhos

Laços de amizade é pra sempre...

Quando o homem morre.....

quarta-feira, 13 de maio de 2015




Problemas para alguns, soluções para Outros...
reunião de executivos
Não é o valor do ouro que atrai o homem, mas o valor que esse homem passa a ter quando o possui...
Naqueles dias, onde uma nova mentalidade já fazia parte daquela avançadíssima civilização, onde as pessoas viviam quase eternamente, onde tudo era harmonia, como era de se esperar, todos os problemas haviam sido erradicados da existência humana. E, a princípio, a coisa ia muito bem.

Havia apenas um governo central para gerenciar o mundo, uma vez que todas as nações agora eram consideradas uma só. Um só idioma, uma só moeda, um só pensamento, e assim por diante. Como não existia mais violência, repressão não era mais necessário. Assim não mais existiam forças armadas ou seguranças. Também, como não havia mais miséria nem desigualdade social, não existiam mais políticos, nem organizações de caridade, nem salvadores, nem religiões, uma vez que nada mais existia para ser salvo, ou justiçado.

Por trás de tudo isso, havia apenas o grande Governo, popularmente conhecido como o “Mecanismo”. Ninguém sabia onde era sua sede, nem a aparência que possuía, sabia-se apenas que ele era imortal. Mas fora criado por uma civilização do passado, antes da destruição total, que dera origem a nova. Por isso alguns argumentavam que sua base era no espaço, na órbita da terra, daí o costume de alguns, de erguerem os olhos ou mãos para o céu, sempre que desejavam pedir alguma coisa, por insignificante que fosse.

Era o “Mecanismo”, o governo perfeito. Sua mente era imparcial, sem sentimentos, e por isso mesmo, os pequenos delitos eram sempre julgados de forma justa, imediatamente, sem papelada, sem advogados, sem protelações. Ele conseguia ver todos os cidadãos do mundo simultaneamente. Era capaz de bisbilhotar suas vidas 24 horas por dia, de saber o que faziam, mas sem interferir, a menos que fosse necessário. Nesse caso, interferia de modo exemplar, sem delongas, sem muita conversa, já que ele sabia tudo, e julgamentos eram desnecessários. E nada passava sem que não visse. E a vida prosseguia em seu ritmo corriqueiro.

Mas apesar de tanta perfeição, com o advento da vida eterna, a vida não era uma coisa assim tão maravilhosa, ao menos para os mais experientes, os mais antigos. Naqueles tempos de vida eterna, chamar alguém de velho ou idoso, era pura falta de bom senso, ou estupidez, pois todos só envelheciam – o termo correto era amadurecer - até uma certa idade. Além desse ponto de maturação, que se chamava de processo biológico natural de desenvolvimento físico, o indivíduo simplesmente parava de se desenvolver, ou “envelhecer”, como era conhecido aquele fenômeno, ou processo, agora citado apenas nas cartilhas pré-históricas.

Como ninguém mais morria, ao menos de causas naturais, ou doenças, a procriação natural fora erradicada da face da terra. Agora só os nascimentos “especiais”, as chamadas reposições acidentais, eram permitidos, assim mesmo nos laboratórios oficiais, controlados pelo “Mecanismo”. E todos já nasciam programados para ter uma profissão, um objetivo de vida, uma ideia do que seria felicidade, e certas predisposições ou habilidades previamente homologadas pelo “Mecanismo”, de acordo com a função que o cidadão iria desempenhar em sua região nativa.

Nesse tempo, a humanidade, apesar de não mais ser dividida por nações, apesar de possuir um só gerenciamento central, ainda precisava de gerentes regionais, até como forma de organizar melhor as ações para aqueles “bairros”. Assim eram chamados os países, já que geograficamente, em relação ao problema das fronteiras que separava uns dos outros, a coisa não mudara muito. Assim havia o bairro europeu, o americano, o africano e assim por diante, e cada um com o seu Representante. Eventualmente, o “Mecanismo” reunia todos aqueles representantes dos bairros da humanidade, para traçar novas metas de ação, projetos mais voltados à qualidade de vida material, ou às vezes, mental.

E numa dessas reuniões, ele ouviu, na verdade ele já sabia de tudo, que as pessoas começavam a se entediar, com a sempre inflexível repetição das coisas da vida. Ocorre que passados milhares de anos, algumas delas, começavam a se dar conta de que nada de novo acontecia em suas vidas. As novidades eram apenas velhos hábitos e costumes, velhas práticas levemente modificadas ou maquiadas, adaptadas aos novos tempos para dar a sensação de “novo”, e essa “constatação”, de que tudo era uma entediante repetição, cada vez ficava mais clara, perturbando a todas de um modo avassalador.

Passados milênios e vivendo numa mesma humanidade, dentro dos mesmos e velhos hábitos disfarçados de novos modismos, ele, o ser humano, começa a se enfastiar de tudo, e surge o tédio, o que se torna um problema para o “Mecanismo” resolver. Sim, porque as pessoas, em suas preces particulares, agora estão incluindo essa ressalva: “Livre-nos do Tédio de cada dia...”, e algo precisava urgentemente ser feito para evitar a insurgência.


Como resolver esse problema, era a pauta daquela urgente reunião. Os representantes dos “bairros” em volta de uma mesa, e no meio daquela sala, apenas a voz do “Mecanismo” eles podiam ouvir, e com ela livremente interagir.

E o Mecanismo, que a tudo ouvia, e tudo sabia, sobre todas as coisas e pessoas, começou dizendo: “Lembro que na pré-história, eles rogavam para se livrarem dos problemas de cada dia. Mas, agora, parece que não ter problemas tornou-se um pesadelo para todos. E ansiosos por descobrirem uma forma de tornar suas vidas menos apáticas, rogam pela volta dos problemas, vá entender...”, acrescentou bem humorado o “Mecanismo”.

Depois acrescentou: “Fundaremos então escolas que ensinarão as pessoas a criarem seus próprios problemas, a serem infelizes. Isso vai requerer também a criação de Escolas que as ensinarão a resolver estes problemas, e a criarem outros. Também, as pessoas não mais viverão eternamente, e ficarão doentes. Com essas medidas simples, já terão um montão de problemas para encher os dias que agora são considerados “vazios”. Numa segunda etapa, dividiremos o mundo em países separados, cada qual agora com seu próprio governante, e não mais haverá o poder central. Voltarão os políticos, e os corruptos, e enganadores, e exploradores do povo, e com o tempo, a depender da pressa e necessidade de cada um, logo o caos será restaurado aos seus dias, talvez numa proporção maior que antes. Assim, poderão ser infelizes, mas sem o referido tédio que a todos incomoda, enquanto viverem, já que não mais serão eternos.”

"Que assim seja feito!”



Quando termina um Sonho e Começa a Realidade?
mulher pensando


Uma ação não depende da vontade, mas do "querer" em tornar concreta essa vontade...
Não acontecera em apenas um dia, ou do dia pra noite, como costumava dizer. A coisa ocorrera de forma gradual, progressiva, como uma sementinha que depois de fertilizada, sem saber por que, querendo ou não, brota da terra e se transforma numa plantinha.

Aquele não era um dia igual aos outros, tudo parecia diferente. A começar pela falta de coragem em levantar da cama. Não que isso fosse uma coisa desagradável, o ficar na cama e dormir mais um pouco, mas comparado com os dias normais, motivado para trabalhar como sempre fora, isso era uma novidade. Tão nova que se pôs a pensar. Aliás, isso também era outra novidade, o fato de parar para pensar.

E nessa leva de pensamentos, incomum para o seu perfil sempre inquieto e ansioso, começou a fazer uma retrospectiva de sua vida. Ainda foi ao espelho, olhou de perto para ver se era ele mesmo, depois retornou à cama. “Talvez precise de um pouco mais de sono, deve ser isso...”, sussurrou.

Mas não sem antes constatar uma coisa estranha. Tudo estava silencioso demais para ser normal. Apurou a audição em busca de algum barulhinho, por menor que fosse, e nada, nadinha. Definitivamente, algo estava errado, ou diferente com aquele dia. Morava em meio a uma rua barulhenta, vizinhança barulhenta, residências coladas umas nas outras, numa casa de paredes tão finas quanto papelão grosso, de onde era possível escutar até os cochichos dos vizinhos, daí o espanto.

No entanto, estes detalhes ficariam para depois, uma vez que seu cérebro já começara a fazer um inventário de todo o seu viver.

Nascia o indivíduo, sem depender da sua vontade, depois, iria crescer, mas não sem antes aprender um montão de coisas, ideias e pensamentos, as coisas que já existiam no mundo, antes de sua existência. Mas, se todas as coisas que aprendera, ideias, tradições, crenças, superstições, tudo isso já existia no mundo antes do seu nascimento, então, o que ele era, senão uma espécie de máquina de repetir, sem pensar, todo esse conhecimento já existente?

No que ele pensava senão naquilo que todos já pensavam? E desde cedo aprendera, através de livros, ou de pessoas, o que deveria fazer, no que deveria acreditar, o que deveria desejar, qual era a melhor escolha, e tudo o mais, através do processo da imitação.

Desse modo, existia algo de autêntico nele, quer dizer, que fosse só seu, que não tivesse sido dito, escutado, repetido de mais ninguém? Existia nele algo original, que não tivesse saído das páginas dos livros, da tradição, dos gabaritos que todos seguiam como se fossem robôs a executar uma tarefa cega?

Do que tinha medo? Será que seus medos eram só seus, ou mais alguém tinha um medo em comum? E suas angústias pessoais, e sentimentos, e seus objetivos de vida, e os motivos pelos quais ficava triste, afinal, existia alguma coisa que não fosse também coisa comum de todos? Percebeu que não, uma vez que todos, assim como ele, aprenderam a ser “gente” seguindo uma mesma cartilha.

Então escutou um barulho, mínimo, tão discreto que duvidou que o fosse. Esperou quieto que se repetisse para ter certeza de que ouvira. Não se repetiu. Ficou na dúvida se ouvira ou não. Mas aquilo fora suficiente para trazê-lo de volta à realidade, que era o silêncio absoluto que reinava naquele dia. Seu corpo parecia mais pesado que de costume, parecia imantado pela cama, daí a dificuldade em levantar-se, e analisar o que estava acontecendo, se é que isso era possível.

Resolveu que contaria até três. No três, levantaria de qualquer maneira. Abriu a janela do seu quarto e constatou, espantado, que ainda era noite, embora seu relógio de cabeceira lhe dissesse o contrário. “Será um eclipse total do sol, ou uma espécie de fim do mundo?”, especulou em busca de uma explicação, um ponto de partida para compreender o fenômeno. Só nesse momento lhe ocorreu de ir aos demais cômodos da casa em busca dos seus parentes. Afinal de contas, não morava ali sozinho.

E ao sair do quarto percebeu que não estava em sua casa. Trancou a porta e retornou à cama. “A coisa é pior do que eu pensava...”, comentou consigo mesmo, enquanto tentava, mentalmente, encontrar uma pista que o levasse a compreender o que estava acontecendo. E se gritasse bem alto? Pelo menos, outros poderiam ouvir e responder com alguma espécie de barulho, o que já seria um indício de normalidade. Mas, sem saber onde estava, podia ser imprudente. E se tivesse sido sequestrado e aquilo fosse um cativeiro?

Pegou seu celular e percorreu sua lista de contatos. Faria uma ligação para alguém, falaria alguma coisa, usaria uma desculpa qualquer como motivo, o importante era ouvir a voz de outra pessoa. Tudo fora de área ou desligado. Pronto, aquilo só podia ser um sonho, um sonho não, um pesadelo. E se fosse, de cara, já seria a coisa mais estranha que jamais lhe acontecera.

Como poderia ser um sonho se ele estava desperto, vigilante, consciente, ali, olhando para si mesmo no espelho, beliscando-se e sentindo na pele, repetindo seu nome e escutando sua própria voz? Viu então que estava vestido com uma roupa nova, de sapatos, inclusive. Será que, sem o saber, havia morrido?

Não tinha mais jeito, aquilo já era demais, resolveu sair daquele quarto, que não era o seu, e explorar o lugar onde se encontrava.

Viu-se diante de um corredor com várias portas dos dois lados. Um hotel talvez, ele pensou, embora não tivesse a mais vaga lembrança de ter, no dia anterior, se hospedado em qualquer lugar. Só então percebeu que não lembrava do dia anterior, nem da semana anterior, apenas de quem era, do seu nome, do nome dos seus pais, embora não lembrasse de seus rostos.

“Será que sou viciado em drogas e isso é a consequência, uma espécie de efeito colateral?”, pensou desesperado. Mas não havia indícios de nada disso, e ainda por cima, que lembrasse, não tinha vício algum, por isso descartou a ideia imediatamente.
 

Bateu na primeira porta no corredor. Valia a pena o vexame de alguém aparecer perguntando o que queria, pois o importante era ver gente. Nada, silêncio absoluto do outro lado. Tornou a bater, repetidas vezes, com mais força. Repetiu o mesmo em todas as portas que existiam naquele corredor, e nada.

Uma das portas se abriu ao ser chutada na aflição. Entrou vagarosamente. Primeiro espiou lá dentro, ainda da porta, depois percorreu o recinto. Vazio, cama arrumada, móveis nos lugares, limpos, sem vestígios de poeira. Armários sem roupas, geladeira vazia, sem retratos nas paredes, nenhuma presença humana.

Ligou a TV; fora do ar. Desceu as escadas, chegou à porta da frente daquela estranha hospedaria. Abriu e, a exemplo do que já vira de sua janela, tudo escuro. Luzes dos postes amareladas, quase sem cor, pouco brilho, piscando, como se fossem apagar a qualquer momento.

Deu um grito, um imenso e duradouro grito, não tinha mais nada a perder. Nesse momento pareceu cair dentro de um bueiro que não vira, na rua por onde caminhava. Caiu sentado, em sua cama, desorientado, sem saber de que lado estava a porta do quarto, sem noção de tempo.

Sua mãe apareceu à porta, assustada com o grito que dera. “O que houve, não me diga que andou sonhando outra vez que era gente?”, foi logo perguntando.

“Acho que sim. Foi isso que aconteceu...”, murmurou já recuperado da estranha experiência. Mas, esquisito mesmo, era, para ele, uma Lagartixa, sonhar repetidas vezes que, de repente, se transformara em gente.



 
Os Pedradores não se preocupam com o Dia Seguinte
 
cidade

Não é o valor do ouro que atrai o homem, mas o valor que esse homem passa a ter quando o possui...
Do ponto onde se encontrava, ele podia ver quase toda cidade, ou o que restara dela. Não sobrara muita coisa, apenas alguns esqueletos do que um dia fora os mais altos arranha-céus daquela nação. O resto era apenas uma massa uniforme de entulhos, onde era impossível encontrar alguma coisa, que permitisse identificar qual teria sido sua forma original. O espesso manto negro que cobria o céu, ainda não se dissipara totalmente, mas alguns discretos focos da luz do sol, como se fora pequenas chamas de um amarelo pálido, já podiam ser vistos em dois ou três pontos por trás das nuvens. Eram poucos, apenas cinco pontinhos haviam sido mapeados em todo o planeta, sem mudança alguma nos últimos 1500 anos. Mas já representava um progresso importante, perto dos 80.000 anos de escuridão quase total de antes.

Naquele mundo quase sem cor, pouca coisa havia para se observar. As plantas eram mirradas e aquelas que eram consideradas gigantes, não mediam mais que dois palmos de altura. Suas folhas agora possuíam uma cor acinzentada, e as árvores frutíferas, além de produzirem poucos frutos, dois ou três por safra, só produziam variedades envenenadas. O ar também se tornara excessivamente tóxico, e uma neblina permanente tornava a visão de qualquer um, eficaz apenas para curtas distâncias. Para médias ou longas distâncias, todos se contentavam em apenas contemplar silhuetas difusas se esgueirando por dentre a névoa, ou nem isso.

Com o tempo, as gerações sobreviventes desenvolveram a capacidade de se adaptar a tais condições ambientais, assim como a de enxergar na escuridão quase absoluta. Graças a esse atributo, ele podia ver a cidade do ponto onde agora se encontrava. Não estava sozinho, dois amigos o acompanhavam. Aquele perímetro por muito tempo ficara de quarentena, e só nos últimos cinco anos, as autoridades haviam permitido aos sobreviventes, pouco a pouco, a retornarem para tentar recolonizar o lugar. Como ainda era uma situação incerta, o governo criara incentivos especiais para aqueles que desejassem estabelecer moradia no local. Cada um receberia um bônus alimentação, suporte à moradia, e um emprego vitalício, onde teria garantido por toda vida, um cargo de supervisor especial da secretaria do meio ambiente.

O trabalho de cada um deles era simples. Deveriam se estabelecer no local, e ao mesmo tempo explorar as regiões mais próximas, efetuando medições dos níveis de poluição ambiental ainda existente. Feito isso, deveriam manter informadas as autoridades, através de relatórios mensais. Para tornar a tarefa possível, cada supervisor receberia um medidor portátil, que seria usado para coleta, análise e posterior compilação dos dados, que seriam transformados nos relatórios.

O treinamento necessário para se tornar um supervisor, incluía lições de sobrevivência a ambientes de extremo risco. Assim, aquele pequeno grupo, na verdade representava uma força de elite dentre os sobreviventes. Esse cuidado excessivo tinha uma razão de ser. Aquela não era uma cidade comum, já fora um local temido por todos antes da destruição, uma verdadeira lenda viva do pavor, o argumento preferido das mães para assustar filhos pequenos desobedientes.

Como cenário das lendas mais temíveis, diziam que monstros de caudas longas comedores de crianças, eram seus habitantes mais amistosos. Eles próprios lembravam claramente quantas noites ficaram sem dormir, pois suas mães diziam que crianças que cometessem alguma traquinagem, ao dormirem, seriam levadas para lá. Desse modo, sabiam agora o motivo das lendas criadas sobre aquele lugar. Havia de fato uma zona proibida, da qual ninguém, sob nenhuma justificativa, deveria se aproximar, e esse era o motivo.

Eles agora conheciam o motivo, pois nas primeiras tentativas de repovoar a cidade, dezenas de grupos haviam desaparecido misteriosamente naquela localidade. Só depois de muita pesquisa, de consulta a antigos mapas da região, é que haviam descoberto a causa. Para as centenas de pioneiros que no passado, disso ainda não sabiam, nada mais poderia ser feito. Mas, para as futuras gerações, havia uma chance, desde que o local fosse devidamente isolado.

Essa também era uma de suas tarefas, era uma missão secreta, por isso tanto treinamento recebido. Nunca poderiam revelar a mais ninguém o que lá encontrariam, e deveriam assim, definir os limites, até onde os futuros habitantes do lugar teriam permissão de ir. Assim, todo cuidado ao se aproximarem da zona proibida, era pouco. Usavam roupas especiais, e máscaras contra qualquer tipo de toxidade ambiental. De certo modo, não havia outra preocupação em explorar aquela cidade fantasma, pois nenhuma outra forma de vida inteligente conseguira mais se desenvolver diante de tão inóspitas condições, assim não precisariam temer eventuais criaturas inamistosos, ou ameaças predadoras.

Eles eram sem dúvida, a última espécie inteligente sobre o planeta, graças a sua espetacular capacidade de adaptação, mesmo aos mais extremos desvios climáticos. Bem treinados, prontos para sobreviverem ante as mais precárias condições, bem equipados e cautelosos, seu único inimigo era sem dúvida a temida zona proibida e seus segredos.


Por isso mesmo, quando se aproximaram do local, uma grande tensão era evidente em todos. Era uma visão assustadora, aqueles altos muros de pedra negra, parcialmente destruídos pela erosão da chuva ácida, a esconderem em seu interior, o motivo dos maiores pesadelos daquela civilização. Eles podiam ler um nome na fachada do prédio principal, daquilo que um dia já fora uma fábrica, a maior do mundo na fabricação de um produto chamado inseticida.

Era uma visão temível. Mas eles, como os melhores dentre os melhores da sua espécie, não podiam se deixar levar por antigos temores, afinal de contas, tinham uma importante missão a cumprir. Podiam ler o nome que milagrosamente resistira quase intacto à destruição do prédio. E um deles leu a palavra da fachada em voz alta: “DETEFON”

E o chefe da equipe engoliu um seco e disse: “O medidor informa que a área ainda é altamente tóxica, para nós, as Baratas. Felizmente estamos com roupas especiais e máscaras”.



O Coral
 
Ausência de Acuidade, excesso de vaidade...
cantora
Um tesouro pessoal quando se torna público, logo desperta a cobiça de muitos...
Minha mãe me explicou direitinho o que significavam os vários tipos de sons. Ela disse que os sons das vozes podem ser graves ou agudos. Grave é o som mais alto, o mais forte, o mais grosso. O agudo é o som mais fino, mais baixo. Assim, uma voz fininha como a minha é aguda, enquanto que uma voz como a dela, de um calibre mais grosso, é grave. Depois ela complicou tudo quando disse: “Tenor é o cantor de voz fina, ou aguda, enquanto que Baixo é o cantor de voz mais alta, ou grave.” Preferi ficar com a primeira explicação, pois essa eu entendi bem.

Em nossa escola, aprendemos a cantar toda manhã, e antes mesmo de qualquer atividade, logo nos reunimos para praticar. Para falar a verdade, adoro cantar. Também gosto de observar meus amiguinhos cantando. Fico prestando a atenção para ver que tipo de voz eles possuem. Percebo que às vezes muda muito. Ora é grave, ora é agudo, ou ambos; nunca é uma coisa só. Mas a minha voz é sempre fininha, é uma coisa só. Perguntei para ela por que cantar é tão bom e ela me respondeu que, cantar é melhor que chorar. Perguntei se ela chorava e ela disse que não, simplesmente porque cantava. Fiquei pensando um pouco naquilo e vi que era assim mesmo.

Lembro de um dia que estava sem vontade de cantar, e logo senti vontade de chorar. Será que cantar é o contrário de chorar? Talvez seja por isso que na porta da escola tem uma placa onde está escrito: “QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA”.

Outro dia, no pátio de um supermercado, vi uma menina chorando. Perguntei a minha mãe porque ela estava chorando, se era porque não sabia cantar. Minha mãe disse que não. Disse que ela chorava porque sua natureza era diferente da nossa. Disse que ela possuía uma natureza complexa, e que desde cedo aprendiam logo a serem infelizes. Por isso mesmo nunca se contentavam com aquilo que já possuíam, com aquilo que a natureza mãe lhes deu. Assim, criavam muitas necessidades, tinham muitos desejos, e ela estava chorando exatamente porque um dos seus desejos não fora realizado. Perguntei se aquela mulher de cara brava, ao seu lado, era a mãe dela, e minha mãe disse que sim. A menina olhou para nós e por um instante ficou quieta. Depois saímos de lá, sem saber o resultado final.

No dia seguinte, contei para minha professora aquele fato. Ela então nos falou sobre os estranhos, sobre como são perigosos, sobre como não devemos confiar neles. Então nos contou a história de um cantor famoso, que gostava de ensinar às crianças a arte do canto. Perguntei se aquilo não era uma lenda, pois lá em casa também ouvira falar dele, só que meus pais nada mais acrescentaram. Ela disse que não era lenda, tudo acontecera de verdade, que ele realmente existira. E contou sua história.

Ele criou os corais. Sua voz era incomparável, e era ainda capaz de cantar em todos os tons. Criava músicas de improviso. Como ele ninguém fazia igual, e nem por isso era vaidoso. Não gostava de competir nos torneios da comunidade, pois dizia que isso dividia os indivíduos, criava desunião, tirava a espontaneidade de ser de cada um. Nunca competiu, e defendia que isso era a causa do todo desentendimento que existe nos relacionamentos.

E explicou, se alguém tinha ciúmes dos feitos do outro, logo queria competir, ou para se igualar, ou para superar. Mas no final, quem saia ganhando se a competição sempre continuava? E ele dizia: “Se alguém ganha, quer ganhar sempre. Assim, a alegria do prêmio logo se transforma em inquietação, pois estará sempre preocupado em não perder”.

E ele ensinava pessoalmente o canto às crianças. Gostava de fazer isso de forma voluntária, mas ressaltava que não estava a mando de ninguém. Fazia isso porque era sua vocação. Fazia porque dizia que ensinar alguém a ser livre, a não depender de favores nem dos opressores, era a verdadeira felicidade a ser conquistada. Nunca se preocupou em escrever nada sobre o que ensinava, pois dizia que para aqueles aos quais ensinava, o que aprendiam já ficava escrito em suas almas, em seus espíritos, e isso lhes bastaria.

Terminada a história fomos cantar mais uma vez, isso antes de voltar para casa. Nesse dia fiquei pensando naquele cantor da história. Quando fui dormir, de repente me lembrei da história de outro cantor famoso, este bem vaidoso, que inventara um ritmo diferente, onde se cantava do fim para o começo. Era engraçado como cantava, e todos riam muito com as caretas que fazia, quando se engasgava com alguma palavra. Minha mãe disse que suas músicas eram de duplo sentido; quer dizer, parecem dizer uma coisa, mas era outra coisa o que realmente significavam. Mas, aqueles que o ouvem compreendem bem o significado de suas palavras, por isso o adoram.

Então, um dia, quando estávamos na hora do recreio, fiquei sabendo que ele estava visitando a nossa escola. Foi uma correria, pois todos queriam conhecê-lo pessoalmente. Não parecia ser arrogante como disseram, na verdade era muito simples, e logo as crianças gostaram do seu jeito brincalhão. Então. antes de começar a falar, ele cantou um pouco. E disse antes de começar: “Vou cantar de modo normal, mas apenas para vocês”. Não compreendi bem o que queria dizer com modo normal, mas depois entendi tudo. E foi maravilhoso seu canto, o mais extraordinário que jamais havia presenciado, e todos por igual, ficaram extasiados com tão bela voz.


Era um dia especial, pois ele ia fazer uma palestra para todos na escola. Então, ficamos sabendo que ele fora um dos alunos mais aplicados do cantor que se tornara uma lenda viva. E foi justamente falando sobre seu mestre, que ele iniciou a palestra. E ele falou para todos.

“Não devemos nos enganar, pois a vaidade pessoal de um pássaro é nosso mal maior. Nosso mestre não era um pássaro vaidoso, mas era ingênuo, e por isso pagou o preço. Ao exibir seu canto, logo chamou a atenção dos humanos, e estes o capturaram para ter apenas para si tão maravilhosa voz. Ele, claro, nunca mais foi capaz de cantar outra vez. Por isso, publicamente, canto de trás para frente, um canto horrível para o ouvido do ser humano egoísta que deseja nos capturar. Logo, nunca serei desejado. Por isso aprendam. Basta saber que sabemos. É tolice exibir nosso saber e talentos publicamente em busca de glórias, pois a glória que buscamos pode ser simplesmente o meio de promover outros, ou trazer para nós a infelicidade.”
 



O Questionamento não é um Atributo do Imprudente
Cientista
Cometer um erro é relativamente fácil, permanecer nele, mais ainda...
Depois das muitas mudanças na genética de tudo que era dotado de vida sobre a terra, muitas coisas aconteceram. Novas espécies animais surgiram. No principio eram apenas animais feitos “sob encomenda” para entreter as crianças. Sim, a moderna ciência era capaz de criar, por exemplo, um animalzinho novo, como nos joguinhos de computador, onde as crianças misturavam os pedaços, as partes, de diferentes espécimes, para dar origem a algo bizarro, ou engraçado, como diziam.
Agora eles podiam fazer isso com animais de verdade. Era simples, bastava chegar no balcão de uma das lojas credenciadas, e solicitar o animal desejado, por mais estranho e improvável que parecesse. A própria criança podia desenhar o modelo em um dos simuladores disponíveis para isso. Em dois dias estava pronto, já no tamanho desejado, de acordo com as preferências do cliente.
E por um bom tempo, o sonho de consumo entre as crianças, era um modelo que falava e lia contos para elas dormirem. Era a sensação e “Hit” preferido nas maciças campanhas publicitárias que incitavam as crianças a possuírem um. Seus olhos eram de gato, o que era ideal para ler no escuro. Sua voz era humana, suave, como a voz de um grande orador, ou oradora, ajustada especialmente para os sensíveis ouvidos infantis. Seus dedos aveludados, assim podiam acariciar os pequenos fazendo um temporário papel de mãe, ou babá.
Use sua imaginação e lá estava o animal correspondente. E se espalharam sobre a terra, e se multiplicaram, dando origem a outras tantas espécies exóticas. Para aqueles que não gostavam de animais, mas apenas das suas carnes, era possível criar espécimes apenas para o corte, de acordo com o gosto de cada um. Podia ser com diferentes sabores, ou consistências, ou já temperados, e assim por diante.
Não havia um limite ético estabelecido onde a ciência pudesse afirmar: “Aqui nós paramos. Desse ponto em diante não é possível continuar.” E tudo era feito para servir ao novo homem. Este, aliás, modificado geneticamente, de modo a não padecer mais de nenhuma doença. O que no princípio fora um grande problema para os médicos, e políticos, e todos aqueles, que não mais podiam lucrar ou se promover motivados pelo caos na saúde, ou sofrimento daquele povo. Sem falar no prejuízo que tiveram as grandes corporações farmacêuticas.
Estas, aliás, deram a volta por cima, e agora dominavam o império das mudanças genéticas. Dinheiro, elas ganhavam mais agora do que no tempo das grandes doenças, das pandemias, onde o caos predominava. Mas alguns saudosistas dos tempos turbulentos se lamentavam: “Bom era antigamente, as grandes pragas, os bajuladores à nossa volta, as doenças crônicas, quando sabíamos que nossa medicação, além de não curar, criava dependentes ainda mais doentes. Dependentes que eram fiéis, e sempre voltavam espontaneamente às farmácias, e postos de saúde. Ai, ai, quanta saudade...”
E os animais ganharam inteligência. Sensatez não, afinal eles tiveram como professores os humanos. E mudaram também os insetos, e mesmo os espécimes virais. Mas a história não poderia ter sido escrita de outra forma. Com o aumento da expectativa de vida para um patamar quase infinito, logo todos se perguntavam se o paraíso não seria algo semelhante a aquilo que ora já experimentavam na terra.
Sendo assim, não precisava ninguém se mudar, quer dizer, morrer para desfrutar de tal benesse. Se mudar para quê, se ali já estava tudinho? Tudo que se poderia esperar de um paraíso, e ao vivo, literalmente falando, e podendo ser usufruído imediatamente, sem obrigações, sem taxas, sem rituais, sem filiações sectárias, sem a intermediação de nenhum ministro religioso, sem esforço, ou idolatrias, ou penitências de nenhuma espécie.
E sem objetivos, com uma sobrevida quase interminável pela frente, encontrar coisas para se manter ocupado, se tornara um grande problema para todas as nações. E achar maneiras criativas para preencher um longo e tedioso dia, acaba por se tornar o objetivo existencial daquela humanidade. Por isso tudo era permitido.
E Ninguém mais adoecia, nem precisava tomar remédio, nem se curvar aos deuses para obter cura ou saúde, ou para conseguir bens materiais, afinal, tudo isso já se possuía, de berço, sem obrigação nenhuma a cumprir. E o imenso tédio de se viver centenas de milhares de anos, sem a promessa de um paraíso a lhes esperar em lugar incerto, e sempre repetindo as mesmas coisas, levou esse homem à insensatez, e da insensatez à total destruição.
Por isso sobraram apenas os escombros das grandes cidades, e as cinzas das grandes florestas, e o deserto de pedregulhos e lama onde antes existiam os mares e as águas límpidas.
Explorando aquele ambiente sabidamente hostil, que restara, onde o perigo poderia estar à espreita dos descuidados, o explorador se deteve no alto da colina e observou pacientemente o cenário desolado, misterioso, silencioso, que não exibia o real perigo oculto em suas sombras. Sombras que, como espectros fantasmagóricos de uma alucinação, se erguiam impassíveis, diante de seus olhos atentos.
Ali já fora uma grande e próspera cidade. Milhares de pessoas a circularem em suas largas e suntuosas ruas, e o burburinho das lojas, despreocupadas e imersas em seus mundos particulares, indiferentes, a consumirem qualquer coisa, como autômatos programados, até que o dia do “Juízo Final” chegara sem prévio aviso. E apenas os escombros chamuscados em contraste com aquele céu sempre cinzento, sem expressão, era o que agora se via. Quem, dos dias de glória, imaginaria aquele desfecho como ponto de chegada para aquela avançadíssima civilização?
E o explorador conhecia bem toda história. Afinal, seus ancestrais viveram entre aqueles habitantes. Foram concebidos a partir da ciência deles. Lembrou das antigas escrituras, onde o homem dito civilizado, que exaltava sua compaixão para com a vida, desprezava os animais ao tê-los como fonte preferida de sua alimentação. Aliás, essa sempre fora uma questão, que pessoalmente o incomodara por uns tempos. Se aquele homem dizia prezar pela vida, por que desprezava a vida dos demais seres vivos? Lembrou que isso fora o assunto da sua tese de doutorado.
Do ponto de observação onde estava, pode então ver se esgueirando entre as sombras, uma das criaturas híbridas. Era meio homem e meio verme, uma espécie natural, uma evolução do próprio homem bárbaro que restara após a destruição. Como a genética de ambos, verme e homem eram semelhantes, o processo de fusão fora uma coisa espontânea, um processo seletivo natural, de modo a se adaptar ao novo e inóspito ambiente, criado por ele mesmo. Assim surgira o “Homus-rasterus”, uma temível espécie predadora de todos os outros animais.

Tratava-se de um inimigo natural de todos, até de si próprio, por isso todo cuidado com ele era pouco. Mas, a exemplo do seu antecessor, era pouco inteligente. Preocupava-se apenas em caçar e depois comemorar suas conquistas, sem se preocupar com o dia seguinte. Particularmente, pensava o observador, aquela espécie era uma ameaça ao equilíbrio de qualquer mundo que prezasse pela harmonia. Por isso deveriam ser mapeados para depois serem isolados dos demais. E esse, naquele momento, como observador, era a sua missão.
Felizmente, graças às mesmas mudanças genéticas responsáveis por tudo que acontecera, agora a raça predominante naquele mundo era outra. Um novo “ser”. Este, mais respeitador do seu próximo, mais coerente em seus princípios morais. Lembrou que antes do “grande dia”, ele fora um subjugado do poderio e crueldade dos antigos habitantes, os humanos, servindo apenas como material biológico, cobaia, para suas pesquisas. Ele, um simples Rato Branco, agora com maior capacidade intelectual, maior que a dos antigos dominadores.
Com maior estatura, caminhando sobre duas pernas, com mãos e braços plenamente desenvolvidos, sem rabo e com um rosto de aspecto humano juvenil, deixara de rastejar desde tempos imemoriais, Caminho inverso ao que seguiu seu antigo dominador.
Sem perder mais tempo, transmitiu à sua base o local que deveria ser considerado de alto risco para os seus, uma vez que a presença do temível “Homus-rasterus”, fora ali detectada.


 
Num Mundo de Contradições, será que podemos ser Diferentes?
adolescente
Parece que os elogios se transformaram no bem mais desejado pelo homem...
Os elogios era uma forma das mais eficazes para aproximar pessoas, especialmente quando o tamanho dessa aproximação, dependia da qualidade do agrado, quer dizer, da qualidade do elogio. Assim, elogiar a aparência da outra pessoa já era um bom começo, era por assim dizer, a regra básica geral. Depois, o visitante poderia incrementar um pouco enfatizando as qualidades profissionais, ou habilidades pessoais, do anfitrião. Deveria apenas ter o cuidado de, ao fazer isso, deixar bem claro que tais habilidades eram incomparáveis, superiores, quando confrontadas ao resto da humanidade.

Para o elogio ter o efeito desejado, o importante era salientar que as qualidades do elogiado eram únicas. Durante a conversa, deixar a impressão de que ficara impressionado com a intelectualidade do visitado, e que aprendera muito naquele dia, mesmo que o assunto fosse dos mais banais e medíocres. Este era um dos mais cobiçados elogios indiretos, e por ser indireto, mexia profundamente com a autoestima do anfitrião. Elogiar virtudes também tinha uma alta pontuação, mas havia um elogio que era imbatível, e este era elogiar os filhos daqueles a quem se desejava agradar.

Pais sensatos, sensato do ponto de vista dos pais, só faltavam colocar os filhos em vitrines, de modo que todos os visitantes pudessem vê-los, e claro, elogiá-los. Ora, de que adiantaria exibir os filhos em verdadeiros palcos montados só para isso, se não fossem os esperados elogios. Eram tão desejados e aguardados, a ponto de fingirem para os presentes, que havia uma grande harmonia e entendimento entre todos residentes da casa. A razão desse comportamento, ela, por ser ainda muito jovem, não compreendia bem. Mas, já sabia que seus pais ficavam extasiados, realizados, como se os elogios, de alguma forma fossem dirigidos a eles próprios.

Lembrou da visita de outro casal, quando, sem que seus pais esperassem, foram logo dizendo: “Nossa, que menina linda”; e voltando-se para o marido, a mulher disparou sem piedade: “Ô Fulano, você não percebe claramente nela, todos os aspectos das crianças índigo?” [2]

Como se seus pais não compreendessem bem sobre o que falavam, ela explicou: “Tais crianças, são consideradas os seres da nova era. São mais inteligentes, mais tudo. Dizem ainda que marcarão uma nova geração de homens e mulheres. Tais indivíduos serão responsáveis pela criação de uma nova e superior raça, que habitará uma terra, onde o ser justo é o padrão”.

Ao que seu marido, com a cara mais dissimulada do mundo, se esgueirando para ouvir os detalhes de uma notícia na televisão, completou: “Sem dúvida, ela é um deles”. Aquilo foi demais. Quase que seus pais não os deixam ir embora. Se o sentimento de vaidade fosse uma droga, naquele dia, eles receberam uma overdose.

E aquele casal foi assunto de vários dias. Receberam muitos e grandes elogios, até que seus pais descobriram que eles haviam dito a mesma coisa, com a filha do vizinho. Mas agora era diferente, pois o visitante era um padre e uma freira, ambos pertencentes a uma ordem chamada de, os Vigários Justos; ao menos era o que diziam ser. Estavam em visita às casas daquela rua, apenas como uma forma de fazerem uma pré-apresentação, do novo pároco da igreja local.

Os dois eram na verdade, uma espécie de comitê de apresentações, aqueles que preparavam o terreno para a entrada triunfal do vigário de fato. Este acabou chegando poucos minutos depois. Os quase quarenta graus que fazia à sombra, não era um argumento suficientemente capaz de fazê-los abrir mão das grossas mantas que vestiam, e de dentro das quais emergiam como verdadeiros seres espaciais.

Ele olhou tudo em volta, e depois de ter a mão beijada pela sua mãe, sentou em posição de destaque, no pequeno círculo improvisado que se formara na sala. Lamentou-se do estado da paróquia o tempo todo, mas só conseguiu uma doação quando comentou: “Vejo que são um casal ímpar aqui no bairro. Não comentem com outros, mas não encontrei ninguém que se compare a vocês, especialmente em qualidade moral, justeza e bom senso. Este fica sendo um segredo apenas nosso.”

Embora isso já bastasse para conseguir com folga a doação que era o verdadeiro motivo da visita, num golpe de misericórdia, para se assegurar de que não haveria desistência quanto à doação, ele se virou para ela e disse: “Essa garota é um ser abençoado, que conseguirá atingir todos os seus objetivos materiais e espirituais nessa vida. Vê-se pelo rosto o quanto é inteligente, além de bela”. Pronto, aquilo foi demais, conseguiu mais do que esperava, apenas com o acréscimo desse providencial realce.

Não é preciso imaginar a cara dos seus pais, ao descobrirem, conversando com o vizinho, que o vigário repetira a mesma coisa também na casa dele. Ao que seu pai acrescentou inconsolável: “Eu sei que mentir é uma habilidade social, e todos precisam mentir para que haja compreensão e entendimento entre as pessoas. Mas, quando uma mentira é um elogio, a coisa deveria ser personalizada, é mais uma questão de respeito. Imagine se digo que seu filho é inteligente, e que é o melhor em matemática. Ao dizer a mesma coisa sobre o filho de outro, posso até repetir que ele é igualmente inteligente, mas devo ter o cuidado de dizer que ele é o melhor em outra matéria, pelo menos isso. Um elogio deve ser único, ou não é elogio”. E o vizinho: “Concordo”.

Horrorizada com tanta dissimulação, ela prometeu a si mesma, nunca mais mentir, uma mentirinha sequer que fosse. Assim, já no dia seguinte, ao chegar à escola para mais um dia de aula, estava determinada a cumprir aquela resolução a todo custo. E logo na entrada, ouviu sua professora comentar para a menina mais rica da classe: “Linda a sua bolsa nova...”. Ao que a menina lhe sorriu transbordando de contentamento, feliz por constatar que sua bolsa de grife havia sido notada.

Mas ela não deixou de graça e retribuiu num sorriso: “Meu pai disse que a senhora é a melhor professora que já tive”. Pronto, estava com a possibilidade de revisão de todas as provas do semestre assegurada. Ela então percebeu o quanto seria difícil sua tarefa: viver num mundo de dissimulados e lutar contra todos. Seria que valia a pena, será que conseguiria?

Achava aquela garota arrogante, dissimulada, com um verdadeiro rei na barriga, e por isso mesmo, apenas eventualmente a cumprimentava. Definitivamente, não pertencia ao seu grupo de interesses, ou achava que não. Observara a tudo aquilo horrorizada, e se questionava como nunca fora capaz de dar-se contar do fato, apesar de tudo acontecer bem debaixo do seu queixo, o tempo todo. Então, como se a vida das pessoas fosse um calvário de testes permanentes, a garota metida, virou-se de sua carteira e lhe sorriu.


Em seguida, baixou a cabeça, e retirou de dentro de um pacote que estava sobre o colo, um pequeno embrulho. Levantou-se com ares de uma “entidade” superior e se dirigiu até ela. E sem que ela fosse capaz de compreender o que estava acontecendo, esticou o braço e disse: “Tome, me lembrei de você quando fui às compras ontem”.

Era a lapiseira dourada que a fazia sonhar quando passava diante da vitrine, onde estava à mostra. O que fazer num momento como esse senão aceitar? Mas a garota metida foi mais longe, e lhe cochichou: “Nunca lhe disse pessoalmente, mas acho você a pessoa mais autêntica dessa sala, e também a mais inteligente.”

Pronto, aquilo foi demais, para que ela pudesse suportar em silêncio, precisava dizer alguma coisa, era até uma questão de bom senso, de educação, por assim dizer.

Então, embora não compreendesse porque dizia aquilo, já que a coisa toda mais parecia um reflexo mecânico incondicionado, algo como a reação de palmada à picada de um inseto, ela respondeu num sussurro: “Nossa, é a lapiseira que sempre desejei. Você é uma pessoa maravilhosa fulana. Também nunca lhe disse, mas admiro você demais. Muito obrigada de coração...”

Só então ela se deu conta do que acontecera ali, e talvez fosse hora de rever a resolução que tomara pela manhã. Não que a estivesse abandonando, mas, talvez fosse o caso de não ser tão inflexível. Talvez a coisa, com o tempo, aos poucos, fosse acontecendo naturalmente. Sorriu contente por concordar consigo mesma.

 


O Vampiro
 
Onde se Escondem os nossos Medos?
vampiro
Talvez o medo só exista porque nos recusamos a examiná-lo de perto...
Aquela noite não era qualquer noite. Parecia mais escura que a mais escura daquelas já presenciada por ele. Mais fria, mais silenciosa, assustadora, quieta demais. Nem grilo estava de plantão naquele dia, quer dizer noite. Olhou da porta antes de sair à rua, fechou os olhos para não distrair os ouvidos, em busca de algum barulho que quebrasse aquele silêncio quase absoluto, quase, porque os seus passos, estes, ele podia escutar.

A noite avançara depressa demais, tanto que só conseguiu dar-se conta da coisa quando o homem do sino passou pela rua. Ele era bastante pontual. Seis horas, nove horas, dez, onze e meia noite. Tocava o sino e anunciava a hora correspondente. Depois sumia tão misteriosamente quanto tinha aparecido. Parecia vir do nada e, simplesmente, se materializava para anunciar as horas. Numa mão uma lanterna a gás, na outra o sininho que parecia ecoar por toda cidade.

“Meia noite e o tempo está muito frio...”, anunciou naquele momento.

Uma lua pálida e enorme parecia negar-se a caminhar pelo céu, pois, até onde lembrava, ela permanecia estática no mesmo lugar, como se estivesse magneticamente presa no fundo negro do espaço. O frio era intenso e o vento só piorava as coisas. Mesmo agasalhado tremia da cabeça aos pés. Apressou os passos em direção à sua casa, e mentalmente, começou a traçar o melhor caminho para chegar mais depressa.

Por onde passava poucas janelas ainda estavam iluminadas. Quase certo era que a maioria já tinha se recolhido. Uma neblina com aparência de vapor cobria boa parte das ruas, o que parecia sufocar a luz dos lampiões dos postes de iluminação pública. Lembrou das histórias de assombrações, das verdadeiras aberrações que escolhiam noites como aquela para perseguir os mais imprudentes. Sentiu um calafrio a lhe percorrer o corpo e apertou ainda mais o passo.

Foi quando viu o estranho vulto numa esquina próxima, no meio do trajeto por onde iria passar. Parou e ficou a observar aquela singular figura negra por um instante. Estava ele imóvel, bem abaixo da escassa luz do poste, e parecia olhar na sua direção. Vestia uma longa capa negra de gola alta, no alto da cabeça uma cartola, e na mão esquerda segurava uma longa bengala, mas estava longe demais para que pudesse vislumbrar seu rosto.

Pensou em ir para o outro lado da rua, para a outra calçada, ou mesmo em dar meia volta e retornar. Mas isso seria um vexame, caso o estranho não fosse nada daquilo que ele estava pensando. Na dúvida parou de caminhar. Ficou parado olhando o misterioso vulto, assim como este parecia olhar em sua direção. Não seria nada demais correr e se afastar dali, afinal, quem tinha os motivos para isso era ele. Medo é medo, e prudência em excesso não faz mal a ninguém.

Mas, e se o estranho, ao perceber sua manobra evasiva, corresse atrás? Como desejou que o homem das horas aparecesse outra vez, mas sabia que isso não mais seria possível naquela noite. Àquela hora já devia estar dormindo, afinal de contas, já cumprira sua missão naquele período. Lembrou das palavras que sua mãe dissera: “É um perigo para as pessoas que andam tarde da noite pelas ruas do centro. Dizem que por lá, depois da meia noite, perambula pelas ruas desertas, um Vampiro, em busca de vitimas desavisadas...”

Sentiu um nó na garganta e um desconforto à boca do estômago. E, naquele frio de congelar, começou a suar frio. Não sabia o que fazer. Procurou em sua sacola alguma coisa que pudesse usar como arma. “Talvez”, pensou, “ao me ver mexer na sacola, ele ache que possuo uma arma e pense duas vezes, desistindo de me atacar.” Procurou a parte mais iluminada do ponto onde se encontrava, e despejou no chão todo conteúdo do seu alforje.

Fingiu que procurava com disposição alguma coisa em meio aos objetos, isso decerto, teria algum efeito psicológico sobre o estranho e suas intenções. Distraído como estava, só percebeu que a misteriosa sombra humana havia desaparecido ao erguer novamente os olhos. Apavorado olhou à sua volta. Correu para o meio da rua de onde teria uma melhor visão de toda a área.


Mas, não o viu. Será que seu plano dera certo? Era a única e mais lógica explicação que tinha naquele momento. Sentiu-se momentaneamente vitorioso. E se ele se escondera em um dos muitos becos, pelos quais ainda teria que passar até chegar em sua casa? Podia ser isso, afinal de contas, um Vampiro não é nenhum bobo, e pelo que se sabe, sempre ataca suas vítimas de surpresa.

Que vontade de gritar. Como estava arrependido de ter ficado até tão tarde na rua. E se ele se transformasse também em Vampiro depois de atacado. Sim, diziam que era assim, as presas de vampiros, se transformam em Vampiros, zumbis, mortos vivos, parasitas que vagueiam sem rumo pelas noites de lua cheia, em busca de sangue, por toda eternidade. O que pensariam seus pais, especialmente sua mãe, ao ficar sabendo que seu filho agora era um Zumbi da meia noite?

Como achou forças para reagir nem ele sabe, mas, de repente, como se tivesse sido atingido por um raio de energia pura, saiu em desembalada carreira, só parando quando chegou à porta da sua casa. Sua mãe o aguardava ansiosa na sala. “Meu filho”, ela exclamou alegre. “estava preocupada com sua demora...”, e o abraçou.

“A senhora não sabe de nada. Acabo de escapar de um Vampiro de verdade lá no centro da cidade!”, falou nos espaços entre uma tomada de fôlego e outra.

Então, lhe sorri docemente a mãe, e fala carinhosamente:

“Oh querido, onde já se viu. Já te disse dezenas de vezes e vou repetir agora uma vez mais. Vampiros não atacam lagartixas como nós, só pessoas. Por isso mesmo, não precisa temê-los outra vez...”
 

MESES DO ANO