segunda-feira, 30 de junho de 2014




Canção do Amor-PerfeitoEu vi o raio de sol 
beijar o outono. 
Eu vi na mão dos adeuses 
anel de ouro
Não quero dizer o dia. 
Não posso dizer o dono. 

Eu vi bandeiras abertas 
sobre o mar largo 
e ouvi cantar as sereias. 
Longe, num barco, 
deixei meus olhos alegres, 
trouxe meu sorriso amargo. 

Bem no regaço da lua, 
já não padeço. 
Ai, seja como quiseres, 
Amor-Perfeito, 
gostaria que ficasses, 
mas, se fores, não te esqueço. 

Cecília Meireles, in 'Retrato Natural'





























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Louvor do AprenderAprende o mais simples! Pra aqueles 
Cujo tempo chegou 
Nunca é tarde de mais! 
Aprende o abc, não chega, mas 
Aprende-o!   E não te enfades! 
Começa! Tens de saber tudo! 
Tens de tomar a chefia! 

Aprende, homem do asilo! 
Aprende, homem na prisão! 
Aprende, mulher na cozinha! 
Aprende, sexagenária! 
Tens de tomar a chefia! 

Frequenta a escola, homem sem casa! 
Arranja saber, homem com frio
Faminto, pega no livro: é uma arma. 
Tens de tomar a chefia. 

Não te acanhes de perguntar, companheiro! 
Não deixes que te metam patranhas na cabeça: 
Vê c'os teus próprios olhos! 
O que tu mesmo não sabes 
Não o sabes. 
Verifica a conta
És tu que a pagas. 
Põe o dedo em cada parcela, 
Pergunta: Como aparece isto aqui? 
Tens de tomar a chefia. 

Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas' 











Os que sabem o que querem e querem o que têm! Sonhar um sonho a dois, e nunca desistir da busca de ser feliz, é para poucos!” 
Cecília Meireles
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Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira.” 
Cecília Meireles

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Penso que sendo o céu redondo, um dia nos encontraremos...” 
Cecília Meireles
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Ainda que sendo tarde e em vão,
perguntarei por que motivo
tudo quando eu quis de mais vivo
tinha por cima escrito: Não
” 
Cecília Meireles








Alma GémeaNenhum sonho custa tanto a abandonar como o sonho de ter uma alma gémea, nem que seja noutro canto do mundo, uma alma tão perto da nossa como a vida. O que é a alma? É o que resta depois de tudo o que fizemos e dissemos. Podemos traí-la e contrariá-la, mesmo sem saber, porque nunca podemos conhecê-la. Só através duma alma gémea. Fácil dizer. Agora como é que consigo falar? 
As almas gémeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se. Naqueles momentos em que alguém diz uma coisa, que nunca ouvimos, mas que reconhecemos não sei de onde. E em que mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde nunca tínhamos conseguido voltar. 

O coração sente-se. A alma pressente-se. O coração anda aos saltos dentro do peito, a soluçar como um doido, tão óbvio que chega a chatear. Mas a alma é uma rocha branca onde estão riscados os sinais indecifráveis da nossa existência. Não muda, não se mostra, não se dá a conhecer. O coração ama. Mas é na alma que o amor mora. Todos os amores. Toda a vida
A alma deixa o coração à solta, como tonto que ele é, e despreocupa-se e desprende-se do corpo, porque tem mais que fazer. E o que faz a alma? Mandar escondidamente na parte da nossa vida que não tem expressão material ou física. Está mal dito, mas está certo, porque estas coisas não se podem sequer dizer. 

O quem e o quê não lhe interessam. A alma não deseja, não tem saudades, não sofre nem se ri; a alma decide o que o coração e a razão podem decidir. A alma não é uma essência ou um espírito; é a fonte, o repositório, a configuração interior. Expressões horríveis, onde as palavras escorregam para se encontrarem. Só resta repetir. A alma é de tal maneira que é aquilo, exactamente, de que não se pode falar. 
A não ser que se encontre uma alma gémea. Gémea não é igual. É parecida. Não é um espelho. É uma janela. Não é um reflexo. É uma refracção. 

(...) O desejo de encontrar uma alma gémea não é o desejo de reafirmarmos a unicidade da nossa existência através de outro que é igual a nós. É precisamente o contrário. É poder descansar dessa demanda. No fundo, todos nós duvidamos que tenhamos uma alma. Senão não falávamos tanto dela. Os melhores ainda são aqueles que a deixam a Deus. 
Uma alma gémea é a prova que não estamos sozinhos. Ou seja: é a prova de que a alma existe. Não faz nem diz o mesmo que fazemos e dizemos — mas tem uma forma de fazer e dizer tão parecida com a nossa, que deixa de interessar o que é dito e feito. Uma alma gémea faz curto-circuito com os fusíveis corpo/coração/razão. Não é o «quê» — é o «porquê». O estado normal de duas almas gémeas é o silêncio. Não é o «não ser preciso falar» - é outra forma de falar, que consiste numa alma descansar na outra. Não é a paz dos amantes nem a cumplicidade muda dos amigos. Não precisa de amor nem de amizade para se entender. As almas acharam-se. Não têm passado. Não se esforçaram. Estão. É essa a maior paz do mundo. Como é que um ninho pode ser ninho doutro ninho? Duas almas gémeas podem ser. 

Como é que se reconhece a alma gémea? No abraço. O coração pára de bater. A existência é interrompida. No abraço do irmão, do amigo, da amante, há sensação, do corpo, do tempo, do coração. Há sempre a noção dum gesto posterior. No abraço de duas almas gémeas, mesmo quando se amam, o abraço parece o fim. Uma pessoa sente-se, ao mesmo tempo, protegida e protectora. E a paz é inteira - nenhum outro gesto, nenhuma outra palavra, é precisa para a completar. Pode passar a vida toda. Não importa. 

Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver. Não há necessidade, nem desejo, nem pensamento. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perdêramos desde a nascença. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Explicações de Poruguês'













ProtestoNão é no teu corpo que se imola 
para a ceia dos meus sentidos 
a vítima núbil, a áurea mola 
que cinge o amor recente aos idos. 

         Mas é também no teu corpo que corre 
         o sangue que o meu sangue socorre. 

Não é no teu corpo que se ergue 
a guerra fria dos meus nervos. 

nem nasceram tuas transparências 
para a cegueira dos meus dedos. 

         Mas é também no teu corpo insano 
         que perscruto meu desconforto humano. 

Não é no teu corpo, nos teus olhos 
de fauno, que colho as minhas ditas, 
nem o jasmim de tua boca flore 
para a visão que me solicita. 

         Mas é também no teu corpo único 
         que o amor à forma do Amor reúno. 

Não é no teu corpo que concentro 
minha sede (esta sede ferina 
que morre de seu farto alimento 
e vive de quanto se elimina) 

         Mas é também teu corpo a medida 
         destas águas sobre a minha ferida. 

Não é no teu corpo, mas é tanto 
no teu corpo meu último refúgio, 
que amoroso e em pânico me insurjo 
contra a fonte que és: júbilo e pranto. 

         Mas é também no teu corpo o tudo 
         da solidão em que me aclaro e escudo. 

         Em teu corpo, canal que brande e acalma 
         minha alma, este pássaro árduo e mudo 
         na estranha migração da tua alma. 

Walmir Ayala, in 'O Edifício e o Verbo'












Esqueço do Quanto me EnsinaramDeito-me ao comprido na erva. 
E esqueço do quanto me ensinaram. 

O que me ensinaram nunca me deu mais calor nem mais frio
O que me disseram que havia nunca me alterou a forma de uma coisa. 
O que me aprenderam a ver nunca tocou nos meus olhos. 
O que me apontaram nunca estava ali: estava ali só o que ali estava. 

Alberto Caeiro, in "Fragmentos" 










Nada Nos Falta, porque Nada SomosAo longe os montes têm neve ao sol, 
Mas é suave já o frio calmo 
         Que alisa e agudece 
         Os dardos do sol alto

Hoje, Neera, não nos escondamos, 
Nada nos falta, porque nada somos. 
         Não esperamos nada 
         E temos frio ao sol. 

Mas tal como é, gozemos o momento, 
Solenes na alegria levemente, 
         E aguardando a morte 
         Como quem a conhece. 

Ricardo Reis, in "Odes" 
Heterónimo de Fernando Pessoa


vida vai sendo levada para longe...

Cecília Meireles
A vida vai sendo levada para longe, como um livro, que tristes querubins contemplam, resignados….Ah, mas as pálidas imagens ainda resistem: saem dos seus primitivos lugares, aparecem onde não as esperávamos, desdobram-se de outras figuras que nos apresentam, acordam as primeiras experiências, as indeléveis curiosidades do nosso amanhecer no mundo.

A bondade está ali

Cecília Meireles
A bondade está ali – detrás daquela porta que se abre em silêncio, na sala onde a mesa está sempre posta – Inutilmente o relógio marca o dia e a noite, pois a vida é sem fim. Ninguém estremece. Ninguém pensa nas horas muito a sério. Todos se sucedem, todos se lembram uns dos outros. Todos estão ali à espera dos que chegam.














EuEu sou a que no mundo anda perdida, 
Eu sou a que na vida não tem norte, 
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte 
Sou a crucificada ... a dolorida ... 

Sombra de névoa ténue e esvaecida, 
E que o destino amargo, triste e forte, 
Impele brutalmente para a morte! 
Alma de luto sempre incompreendida! ... 

Sou aquela que passa e ninguém vê ... 
Sou a que chamam triste sem o ser ... 
Sou a que chora sem saber porquê ... 

Sou talvez a visão que Alguém sonhou, 
Alguém que veio ao mundo pra me ver 
E que nunca na vida me encontrou! 

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"












Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.” 
Cecília Meireles

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Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.” 
Cecília Meireles

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Eu sou uma eterna apaixonada por palavras, música e pessoas inteiras. Não me importa seu sobrenome, onde você nasceu, quanto carrega no bolso. Pessoas vazias são chatas e me dão sono.” 
Clarice Lispector

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Existem momentos na vida da gente, em que as palavras perdem o sentido ou parecem inúteis, e, por mais que a gente pense numa forma de empregá-las elas parecem não servir. Então a gente não diz, apenas sente.” 
Sigmund Freud









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Vai começar o futebol,pois é,
Com muita garra e emoção
São onze de cá, onze de lá
E o bate-bola do meu coração

É a bola, é a bola, é a bola,
É a bola e o gol!
Numa jogada emocionante
O nosso time venceu por um a zero
E a torcida vibrou

Vamos lembrar
A velha história desse esporte
Começou na Inglaterra
E foi parar no Japão
Habilidade, tiro cruzado,
Mete a cabeça, toca de lado,
Não vale é pegar com a mão

E o mundo inteiro
Se encantou com esta arte
Equilíbrio e malícia
Sorte e azar também
Deslocamento em profundidade
Pontaria
Na hora da conclusão

Meio-de-campo organizou
E vem a zaga rebater
Bate, rebate, é de primeira
Ninguém quer tomar um gol
É coisa séria, é brincadeira
Bola vai e volta
Vem brilhando no ar

E se o juiz apita errado
É que a coisa fica feia
Coitada da sua mãe
Mesmo sendo uma santa
Cai na boca do povão

Pode ter até bolacha
Pontapé, empurrão
Só depois de uma ducha fria
É que se aperta a mão
Ou não!

Vai começar...

Aos quarenta do segundo tempo
O jogo ainda é zero a zero
Todo time quer ser campeão
Tá lá um corpo estendido no chão
São os minutos finais
Vai ter desconto

Mas, numa jogada genial
Aproveitando o lateral
Um cruzamento que veio de trás
Foi quando alguém chegou
Meteu a bola na gaveta.





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PLAY

Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer
















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PLAY

Morena, tem pena
Mas ouve o meu lamento
Tento em vão te esquecer
Mas, ai, o meu tormento é tanto
Que eu vivo em prantos, sou tão infeliz
Não há coisa mais triste meu benzinho
Que esse chorinho que eu te fiz
Sozinho, morena
Você nem tem mais pena
Ai, meu bem, fiquei tão só
Tem dó, tem dó de mim
Porque eu estou triste assim por amor de você
Não há coisa mais linda neste mundo
Que o meu carinho por você
Morena, tem pena
Mas ouve o meu lamento
Tento em vão te esquecer
Mas, ai, o meu tormento é tanto
Que eu vivo em prantos, sou tão infeliz
Não há coisa mais triste meu benzinho
Que esse chorinho que eu te fiz
Sozinho, morena
Você nem tem mais pena
Ai, meu bem, fiquei tão só
Tem dó, tem dó de mim
Porque eu estou triste assim por amor de você
Não há coisa mais linda neste mundo
Que o meu carinho por você











MESES DO ANO