segunda-feira, 30 de junho de 2014




ProtestoNão é no teu corpo que se imola 
para a ceia dos meus sentidos 
a vítima núbil, a áurea mola 
que cinge o amor recente aos idos. 

         Mas é também no teu corpo que corre 
         o sangue que o meu sangue socorre. 

Não é no teu corpo que se ergue 
a guerra fria dos meus nervos. 

nem nasceram tuas transparências 
para a cegueira dos meus dedos. 

         Mas é também no teu corpo insano 
         que perscruto meu desconforto humano. 

Não é no teu corpo, nos teus olhos 
de fauno, que colho as minhas ditas, 
nem o jasmim de tua boca flore 
para a visão que me solicita. 

         Mas é também no teu corpo único 
         que o amor à forma do Amor reúno. 

Não é no teu corpo que concentro 
minha sede (esta sede ferina 
que morre de seu farto alimento 
e vive de quanto se elimina) 

         Mas é também teu corpo a medida 
         destas águas sobre a minha ferida. 

Não é no teu corpo, mas é tanto 
no teu corpo meu último refúgio, 
que amoroso e em pânico me insurjo 
contra a fonte que és: júbilo e pranto. 

         Mas é também no teu corpo o tudo 
         da solidão em que me aclaro e escudo. 

         Em teu corpo, canal que brande e acalma 
         minha alma, este pássaro árduo e mudo 
         na estranha migração da tua alma. 

Walmir Ayala, in 'O Edifício e o Verbo'









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