quinta-feira, 30 de julho de 2015


  • Numa aldeia nas montanhas da Etiópia, um rapaz e uma moça se apaixonaram e se casaram. Por algum tempo foram perfeitamente felizes, mas então os problemas chegaram à casa deles. Começaram a ver os erros um do outro nas pequenas coisas – ele a acusava de gastar muito no mercado, ela o acusava de estar sempre atrasado. Não se passava um dia sem uma discussão sobre dinheiro, sobre trabalho doméstico, sobre amigos. Às vezes ficavam tão bravos que gritavam, berravam impropérios e iam para a cama sem se falar, o que só piorava as coisas.
    Depois de alguns meses ele achou que não agüentava mais aquilo e procurou um juiz velho e sábio para pedir o divórcio.
    – Por quê? – perguntou ele. – Há menos de um ano que se casaram. Não ama seu marido?
    – Sim, nós nos amamos, mas as coisas não vão nada bem.
    – Como assim, não vão nada bem?
    – Ah, brigamos muito, ele faz coisas que me irritam. Deixa roupas espalhadas pela casa toda, corta as unhas do pé na sala e deixa pelo chão, chega tarde em casa. Sempre que eu quero fazer alguma coisa, ele quer fazer outra. Não podemos viver juntos.
    – Entendo – disse o velho juiz. – Talvez eu possa ajudar. Conheço um remédio mágico que vai fazer vocês se darem muito melhor. Se eu lhe der esse remédio, vai parar de pensar em divórcio?
    – Claro! Gritou ela. – Qual é o remédio? Me dê!
    – Calma – disse o juiz. – Para fazer o remédio preciso de um fio da cauda de um grande leão que vive perto do rio. Tem que trazer esse fio para mim.
    – Mas como vou conseguir isso? – exclamou a mulher. – O leão vai me matar!
    – Nisso não posso ajudar – disse o velho, abanando a cabeça. – Entendo muito de remédios, mas não entendo nada de leões. Você tem que descobrir um meio. Vai tentar?
    A jovem esposa refletiu longamente. Amava muito o marido, e o remédio ia salvar seu casamento. Resolveu buscar o pêlo do leão.
    Na manhã seguinte, foi ao rio e se escondeu atrás de uma pedra. Pouco tempo depois, o leão veio beber água. Quando viu as patas enormes, ela ficou tremendo de medo. O leão abriu a boca, mostrando os dentes afiados, e ela quase desmaiou. Então o leão deu um rugido e ela saiu correndo para casa.
    Mas na manhã seguinte ela voltou ao rio, trazendo um saco de carne fresca. Deixou a carne no capim da margem, a duzentos metros do leão, e ficou escondida atrás da pedra enquanto ele comia.
    No dia seguinte, voltou e pôs o pedaço de carne a cem metros do leão; no outro dia, pôs a carne a cinqüenta metros do leão e não se escondeu enquanto ele comia.
    Assim a cada dia chegava mais perto do leão, até que um dia chegou tão perto que pôde atirar-lhe a carne na boca. No outro dia, o leão veio comer em sua mão. Tremia ao ver os dentes enormes rasgando a carne, mas tinha mais amor ao marido do que medo do leão. Muito lentamente, ela abaixou-se e arrancou um fio do pêlo da cauda da fera.
    Voltou correndo ao juiz.
    – Olhe! – gritou ela. – Trouxe um pêlo do leão!
    O velho pegou o fio e examinou atentamente.
    – Foi muita coragem sua – disse ele. – E precisou de muita paciência, não?
    – Ah, sim – disse ela. – Agora me dê o remédio para salvar meu casamento!
    O velho juiz abanou a cabeça.
    – Não tenho mais nada a lhe dar.
    – Mas o senhor prometeu! – exclamou a jovem esposa.
    – Então não vê? – perguntou ele com carinho. – Já tem o remédio de que precisa. Você estava decidida a fazer o que fosse preciso, por mais que demorasse, para ter o remédio mágico para seus problemas. Mas mágica não existe. Só existe a sua determinação. Você e seu marido se amam. Se os dois tiverem a paciência, a determinação e a coragem que você demonstrou para trazer esse pêlo do leão, serão muito felizes. Pense nisso.
    E a mulher voltou para casa, com novas resoluções.


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